Acordei tarde e a a boas horas.
Na minha almofada o cheiro a lobisomen lembrou-me que dormia em caverna alheia.
O hálito forte da vida canina e a sua aspereza de lingua arrancam-me inesperadamente do esquecimento.
Urro de prazer por ter sobrevivido a mais um sono reparador. Confiro a consistência do , dorido, esqueleto e vou em busca de mata-bichos.
Morto o da fome, da sede e da higiene, o da insatisfação havia crescido e afiava as garras pousado na minha cabeça.
Acariciei-lhe o pêlo na tentativa de lhe medir o pulso e calcular o desejo. Acabei arranhado e com vontade de ser cobaia farmacêutica.
Com raiva consulto a agenda. A caça começara. Preciso de um mata-pulsões. Sei muitas receitas e vou em busca da mais barata e saudável.
Um corpo com desejos simétricos ao meu com quem possa executar uma operacão com resultado ZERO e prazer indefenido para ambas as parcelas.
O contacto telefónico é feito e antigos desempenhos facilitam uma repetição. A aproximação dá-se, a magia acontece. A paz oca vem e adormeço sem sequer fumar um cigarro.
Quando acordo o corpo é estranho e os desejos completamente assimétricos. A insatisfação rói enfadada a pouca beleza do momento.
Procuro mentalmente uma saida airosa e antes que nova operação fosse indiciada abondono o local montado na crescente insatisfação.
Mais leve porém peço mais peso e alimento-me como se tivesse trabalhado para tal. A cobra enrola-se demais e o mais básico dos básicos acaba por ser o sublime.
Enrolo o meu tempo e fumo-o com tempo. As passas longas amaciam as arestas e tudo escorre sem dor. Um olhar irmão confirma o nosso desejo e sem encomenda o saco chega com mais que o necessário.
Confirma-mos sem palavras o acertivo da escolha e escolhemos o resto.
Depois de definidas as prioridades o acessório encaixa sem dificuldade.
Nas calminhas preparo os meus prazeres sabendo que quem me interessa faz o mesmo. Preparo as minha armas e saio para a rua. Bem acompanhado por dentro e por fora. O meu sorriso e agilidade na fala não comprometem o bom nome das famílias e posso atentar contra todos.
Shiva vem em meu auxilio e em breve nada é o que parece. A festa já havia começado mas os mortos dançavam no meio de nós. Beijo alguém na boca e a náusea tomba-me. Tento escutar as razões alheias mas é merda merda e mais merda. O meu corpo entra no frenesim habitual e a musica é a única coisa que existe agora. O meu corpo sabe tudo o que precisa e não quer amigos. Antigos ritmos e rituais nascem e morrem em mim. Mãos afagam-me e abrem-me os olhos. São bichos da insatisfação á caça. Cuspo no chão e fujo sem pressas. Exibindo o meu corpo se algo pudesse acontecer.
Dançando as palavras que havia largado ganham consistência e as almas perdidas voltam a aproximar-se. Agora com desejo novos e redobrados.
Ponho-me em leilão.Mas sem reserva fixa ninguém arrisca o primeiro lance. As mãos testam o produto e ouvidos querem novas palavras.
Falo com elas e espremo-as com fervor. Chupo-lhe os sucos e cuspo as casquinhas para a pista de dança, onde outros se apressam a dar-lhe uso.Bagaceiros digo eu.
Quero-me sozinho. Só para mim. Preciso de algo bom e vou em busca dele.
Amigos,o rio,o Sol, tudo lá estava. Encho-me de mim e grito a minha indignação do dia. Espalho a minha mensagem e eles ouvem.
Os meus desejos quando não concretizados servem de combustivel para aquilo que realmente interessa. Sem tempo a perder construo mais castelos no ar e sem pressa planeio a sua não concretização na expectativa daquilo que a frustração me vai trazer.
Acho que só poderei ver a luz se estiver realmente ás escuras.
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.