Do seu ponto de vista, algo impermanente é aquilo que é suscetível à instabilidade, é efêmero, inconstante... Mas veja, você olha as coisas de um ponto de vista bastante raso. Não quero dizer que você está no lugar errado, ou que a vida física é menos importante ou despretensiosa. Só pretendo dizer que você observa as coisas, tendo como referência conceitos errados, ideias equivocadas a respeito da natureza da realidade. Mesmo do seu ponto de vista, nada é permanente. Mas você ignora isso por querer. O seu ego nega a todo o momento o movimento natural das coisas. Veja, você vive todos os dias ignorando a sua morte, nega que a sua vida atual terá fim. Chega a se surpreender quando morre, ou quando algo acontece com você. Já que tudo deve acontecer com todos, menos com você. Isso é uma negação consciente de sua condição real e contundente, no entanto, negada. Você sabe que a nega, porque isso não é inconsciente, é consciente.
Olhe, a partir do ponto de vista da sua realidade. Mesmo as paredes não são constantes como você julga. Elas são compostas de partículas que não apenas vibram, mas mudam constantemente de lugar. Tudo é fluído. Mas você julga, do alto da sua condição presa ao tempo, que a impermanência é ruim. Porque você acha que as mudanças afetam você negativamente. E não percebe que são por causa das mudanças que você está aqui, e que a sua terra "evoluiu".
A mudança não é só necessária, mas é uma condição universal. Apenas porque a sua cultura sente resistência, devido ao reconhecimento errado da natureza da realidade, é que você julga a inconstância uma desvantagem.
O computador à sua frente só existe por causa da impermanência, da mudança de correntes. A maçaneta da sua porta pisca constantemente como um vaga-lume. Ora ela existe, ora não. Você só não percebe isso por causa da natureza do seu tempo, e da forma como você o percebe passar. Você mesmo lampeja como uma estrela, nascendo e morrendo na minha realidade.
A impermanência é uma benção, porque a partir dela toda a criatividade ganha vida. Imagine se a sua arquitetura jamais mudasse ao longo do tempo. Se a sua noção de arte não mudasse... Você jamais veria uma obra de Monet, ou uma casa no estilo baronial inglês.
Você mesmo muda de opinião várias vezes ao longo do dia. O que dirá, ao longo dos anos. Contudo, você só vê isso como desvantagem por causa da sua condição dentro de sua realidade, que você julga efêmera. Você teme a dissolução. Isso o torna conservador.
Mas se você realmente conhecesse a natureza da sua personalidade não temeria a dissolução. Então você entenderia que a entidade não é um ser que passa a eternidade imutável, preso dentro das mesmas ideias e guardando o mesmo conhecimento. O Ser é um conjunto infinito de personalidades, que ainda que sejam únicas e estejam eternamente se aperfeiçoando e mudando, ainda assim se vê e se porta como uma única entidade. Pra você entender é difícil, eu sei. Mas o seu corpo imita a criação. Olhe as suas células, elas são indivíduos, e todas elas juntas formam você.
Muitos de vocês juntos formam personalidades parecidas, que vocês chamam de comunidades, e olhando de longe, os comportamentos dessa comunidade, a cultura dela, aquilo que julgam importantes... formam quase que um indivíduo. Vocês procuram pessoas que parecem com vocês, em comportamento ou aparência, procuram agregar-se a essas pessoas, quase num ímpeto de se fundirem, embora fingem não perceber isso.
Você é um espírito agora. Só esqueceu-se disso. Você virou a sua atenção para o "lado" de cá, para dar fluidez à lei do Universo, onde nada é estático, mas tudo é um movimento de aprender e viver coisas novas, experiências novas, que enriquecerá não apenas você, mas tudo o que existe.
Espero que foque as suas expectativas nas melhores intenções. Você agitam demais a água e às vezes tem-se a impressão que ela vai vazar pra fora da bacia. Se um dia o ser humano entendesse que o que ele é permanecerá na eternidade, a despeito das mudanças, ele seria melhor consigo mesmo e com os outros.
Ai me perguntam: Como permanecerei o que eu sou na eternidade, se me diz o tempo todo que tudo muda e que o ego não será mais o mesmo... Mas eu também digo o tempo todo que o tempo não existe. Tudo e nada são apenas maneiras diferentes de perceber a realidade. E elas são muitas. Na verdade, infinitas...
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