Os portugueses são indivíduos extravagantes. A sua língua tem particularidades estranhas e interessantes.
Venho debater um assunto que acho que exigiria um abaixo-assinado, ou assassinado...
É de domínio público que as árvores de frutos dão pomares. Aliás, pomar é o nome colectivo de árvore de fruto.
A árvore que dá as pêras (gosto muito, quase tanto como o pêssego) é a pereira. A árvore que procria os pêssegos é o pessegueiro, por falar nele anteriormente. A árvore dos abacates é o abacateiro e sucessivamente. Inclusivé, para as anonas é a anoneira, e para os maracujás já não estou certo se é maracurajeiro, ou árvore-do-maracujá.
Que fruto dá a oliveira?
Ou antes, porque é que a árvore que pare as azeitonas não se chama azeitoneira?
Isto revolta-me ao mais fundo do meu ser científico e poético, ao mesmo tempo!
Mas esta questão tem raízes mais profundas...
Por todo o mundo ocidental é chamado ao fruto, olive, como nos anglófonos. Os que falam castelhano e espanholês (desculpem-me mas são muitos) é oliva.
Faz sentido, em gente evoluída. O fruto da oliveira ser oliva, ou olive tree ser a árvore das olives.
Aqui é que a porca torce o rabo.
Todo o lusófono sabe que um dos derivados melhores do mundo, da azeitona, é o azeite da terra do meu Pai.
É um óleo vegetal de uma riqueza excelsa e com um grau de complexidade extremo.
Por exemplo (por falar em grau), tem grau assim como o vinho, ou outros produtos alcoólicos. Ainda por cima de acidez. Tem personalidade. Ele há pessoas muito ácidas...
Varia de região para região. O do Alentejo é magnífico, mas não o comparem, por favor, ao da terra do meu Pai, a Rapadoira.
Quanto ao outro grau, o da pureza, sou um pouco esquisito no meu gosto.
Gosto do azeite como gosto de mulheres.
O meu preferido é o refinado ( o que eu gosto de mulheres refinadas) que tem um grau de pureza fraco. Adoro o sabor.
Há ainda o virgem, o extra-virgem, o extra-extra virgem e o etéreo.
Nestes há muito trabalho de coagem, são leves e saborosos.
Eu gosto do peso.
O adjectivo refinado excita-me.
Não desgosto de virgens, gosto de ensinar e ser ensinado.
Extra-virgem dá-me medo. Etéreo dá-me nojo.
Portanto, ou a árvore chama-se azeitoneira, ou o fruto chama-se oliva, assim é uma confusão!!!
Nenhum "aceite" (uso aqui o espanhol para frisar o supracitado e para não usar o termo óleo, que me faz lembrar o dos carros) se mistura com água.
Há propriedades físicas na substância que o impedem.
"A atracção entre as moléculas de água é feita por meio de ligações de hidrogénio, que é o tipo mais intenso de força intermolecular. Portanto, apesar de as moléculas de óleo serem atraídas pelas moléculas de água, essa força de atracção é menor. Assim, as moléculas de água se atraem e se agrupam com mais força e as moléculas de óleo não conseguem ficar entre duas moléculas de água vizinhas." - Texto retirado do site Alunos online autoria de Jennifer Rocha Vargas Fogaça
Portanto, além de ter vários graus de pureza também mexe muito com o poder de atracção.
Para mim, afinal, O azeite, é uma mulher refinada...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.