Tenho um dia cheio de horas e um maço de folhas em branco para te ver esta noite, até que me acabem os cigarros.
Dá-me o fim deste tempo na tua boca, quando chegar sábado a beber por buracos e garrafas partidas na calçada, depois do sol.
Estou farto do mundo e de tudo, e de como me vejo sempre no desencontro das palavras, em bons dias quase a meio da tarde.
Trago a culpa dos copos a mais e das noites vadias marcadas nos corpos sem rosto, funda no peito.
Faltam muitos espaços ao tempo para o teu beijo matinal enraizado na terra de nós dois entre os lençóis brancos.
E hoje acordei tão tarde nos teus olhos.
Queria essa tarde nos Himalaias a demorar a vida inteira e a vida inteira nas tuas mãos como nunca a tive nas minhas.
Há tanta gente que anoitece nos meus olhos, que já não sei como olhar para tanta gente, quando amanhã, andar com o dia cansado nos pés pela rua.
Quero levantar-me cedo na seda da tua pele e adormecer mais uma vez na suavidade do teu perfume, até me levantar cedo para o dia.
Faltam muitos espaços ao tempo na manhã do teu beijo.
Dá-me o fim deste tempo na tua boca e a tua boca antes que seja domingo, para não a perder mais da minha.
Tenho um dia cheio de horas e um maço de folhas em branco para te ver esta noite.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.