Poemas : 

Sorver o Sumo II

 
Sorvi do fruto o último sumo
Que restou no fundo da cesta.
Peguei papel e pouco de fumo
Enrolei um cigarro após a sesta.

Como eu sou meio de veneta
Aproveitei papel e da caneta
Olhei os pássaros na gameleira
Numa tarde fagueira de sexta...
Feira.

Com eu tenho muito de palhaço
E muito, muito pouco de poeta
Fiquei a desenhar ave no espaço
Numa estranha e bizarra silhueta.


Estanquei no primeiro parágrafo
Usei um ser imaginário: Um grifo.
Lembrei dos sofrimentos de Sísifo,
Da ilha de Lesbos, dos poemas de Safo...

Nada de nadar na minha inspiração.
Levantei os meus olhos para o teto
( Já não tinham palavras pelo chão)
Quando deparei-me com um inseto

Que tecia uma fabulosa confecção.
Adentrou-me uma tamanha melancolia
Ao assisti-la no seu engenhoso trabalho
Enquanto eu não tinha escrito uma linha.

A tarde ia morrendo em triste agonia.
Uma estrela acesa por um divino dedo.
A barra do dia levado pelo manto quedo
E tudo que era, já não é mais. Virou poesia.



Gyl Ferrys

 
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Gyl
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Enviado por Tópico
Maryjun
Publicado: 12/06/2017 19:43  Atualizado: 12/06/2017 19:43
Membro de honra
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Mensagens: 7163
 Re: Sorver o Sumo II
Boa tarde,Gyl,

Quanta inspiração
Belíssimo magistral!
Parabéns,

Mary Jun


Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 13/06/2017 01:21  Atualizado: 13/06/2017 01:21
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 Re: Sorver o Sumo II / PARA GYL
Virou poesia e você a oferta generosamente aos leitores que te apreciam a escrita. Das melhores do Luso!

Enfim, Gyl, seja sempre o poeta que traz o melhor de si , em forma de palavras que na poesia são as personagens principais, expressando o teu talento, a tua verve!

Bravos , poeta !
Bjoss


Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 17/06/2017 17:44  Atualizado: 17/06/2017 17:44
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3408
 Re: Sorver o Sumo II
"Enrolei um cigarro após a sesta
Numa tarde fagueira de sexta...
Em estranha e bizarra silhueta
Da ilha de Lesbos, dos poemas de Safo...
Quando me deparei com um inseto
Ainda eu não tinha escrito uma linha...
E tudo que era, já não é mais. Virou poesia."

De uma forma concisa se faz do grande um menor, mas de igual tamanho e consistência.