Poemas : 

Poema Sem Prumo Com A Metalinguagem

 
O poema é parecido a um parto.
Sintamos a primeira contração
Tocando profundo no coração
Com potencialidade dum infarto
Que dita o momento, a passagem,
Quando o poema já nasce morto
Quando o poema é um anjo torto
Sem prumo com a metalinguagem.

Tem poema que é puro, de fato,
Feto fictício, fantasioso ou não;
Poema precioso, de apreciação;
Tem poema que é puro palato,
Que é imaginativo e só imagem
Deixando a vida mais corante
Impulso compulsório e vibrante
Sem prumo com a metalinguagem.


Nada de um poema eu descarto:
Olhar atento, observo, absorvo
Um pouco de Poe*, do "O Corvo",
De Morrison**, que foi "Rei Lagarto"
Tudo me serve de engrenagem
Que me guia por vários atalhos
Para o coser das colchas de retalhos
Sem prumo com a metalinguagem.

Sendo assim, para o poema, eu cato
Palavras esparramadas pelo chão.
Por vezes eu arrisco fazer uma canção
Mas eu confesso que me falta o tato.
Apavonado, exibo a minha plumagem
De tal maneira, de tal forma e tanto...
Porém o poema nasce sem encanto
Sem prumo com a metalinguagem.

Uma luta intestina comigo eu travo.
Rasgo céus, crio pontes, derrubo o muro
Que Waters*** não esperava chegar no futuro
Com a precisão britânica de um escandinavo.
(Lembro de Bandeira**** com o seu "Libertinagem)
Entre mim e meu dicionário não há hiato
Travo com ele um verdadeiro pugilato
Sem prumo com a metalinguagem.

Então eu vou cantando o meu recado.
A vivência humana é feita de escolhas
Meu poema por aí se vai, feito folhas
Pelo mundo, que é o senhor do fado,
Implorando quem o leve na bagagem,
Aguardando quem o ame e o queira
Para o ler embaixo de uma laranjeira
Sem prumo com a... metalinguagem.




Gyl Ferrys

 
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Gyl
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Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 02/06/2017 23:06  Atualizado: 02/06/2017 23:06
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Poema Sem Prumo Com A Metalinguagem/PARA GYL
Diferentemente de alguns poemas longos que tenho lido aqui mesmo no Luso, o teu não se perde no emaranhado de versos, e estrofes. Tem sentido desde o início ao término, numa coerência com o título e o tema, o que convenhamos, não é tarefa fácil, manter o foco. Que maravilha, porque fui bebendo as palavras sem sair do prumo.
A metalinguagem no poema, só pode mesmo ser usada por quem sabe, meu querido Gil, para oferecer uma leitura agradável.
A associação do poema a um parto, com todo o processo que envolve o mesmo, foi muito feliz da sua parte porque corresponde à verdade. E , diferente do que você pontuou, esse poema tem um prumo equilibradíssimo meu amigo!!

Parabéns pelo talento e pela erudição que tanto admiro em teus escritos.
Beijos da amiga e fã!


Enviado por Tópico
Nininha
Publicado: 03/06/2017 20:54  Atualizado: 03/06/2017 20:54
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2016
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Mensagens: 1779
 Re: Poema Sem Prumo Com A Metalinguagem P/ Gyl
Olá Gyl;
perante a arte dos teus poemas, sou eu quem se sente diminuída...Amo tudo o que escreves.
Parabéns meu amigo
Beijos mil Gyl


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 05/06/2017 13:09  Atualizado: 05/06/2017 13:09
 Re: Poema Sem Prumo Com A Metalinguagem
As palavras se afolham nessa imensidão poética elevada pelos senso de uma sabedoria plena.

martisns


Enviado por Tópico
atizviegas68
Publicado: 05/06/2017 21:17  Atualizado: 05/06/2017 21:19
Usuário desde: 09/08/2014
Localidade: Açores
Mensagens: 1538
 Re: Poema Sem Prumo Com A Metalinguagem
A analogia entre o "parto" do poema com a de um nado é singular e analogamente bem real.
Muito bem conseguido ao longo dos versos.

Todo o poema descreve, por meio de uma fantasia, um acto real que traduz ele mesmo um sentido real: o nascimento de um ser ou de algo (um poema).
Todo o poema nasce, verso a verso, com intensidade nas palavras ofertando a existência de um Ser ou de um poema ao mundo.

Gostei imenso do recém-nascido poema.
Um abraço oceânico