A música vinha e ia.
Meu corpo flutuava.
O sol surgia e divagava
Atrás das nuvens.
Que flutuavam e
Escondiam o sol.
A porta entreabria-se
Pelo vão,
Deixava entrar
Poeira colorida.
O ruído da rede oscilando,
Misturava-se com os sons produzidos
Pelas gotas de orvalho evaporando-se.
Meu corpo se aquecia ao sol
Que aparecia escondendo a lua.
Movimentos lerdos,
Um arrastar de chinelos,
O gotejar de água do regador
Molhando ervas sedentas.
A música que vinha da casa
Acasalava-se com o canto dos cantores
Dos galhos próximos,
Com o tilintar dos cristais de orvalho
Banidos das pétalas,
Insatisfeitas com a gélida presença.
O vento se chegava
Com beijos baforosos.
Os pássaros sacudiam as penas
E cantavam agradecidos.
As flores reclamavam,
Medrosamente,
Beijos mais carinhosos
Para que não perdessem
O feitiço colorido.
As palmeiras, do alto,
Faziam alarde.
Os pequeninos grãos de areia
Tomavam outros lugares
E ao vento injuriavam.
Batia a enxada
Sofria o mato.
Gritava o caramujo
Esmagado pelos pés do ordenhador.
Rangiam as tetas
A expelir o néctar materno.
O bezerro choroso
Reclamava as tetas furtadas.
O galinheiro era saqueado,
Espalhava-se o pânico
Entre os galináceos.
Reclamavam os ovos roubados,
E a companheira escolhida
Para estar à mesa no almoço.
A cana contorcia-se,
Soltando sangue
Aos apertos da moenda.
Vez por outra,
Uma borboleta
Competia com o beija-flor
Na exploração à rosa solitária
Vez por outra
Ouvia-se um bom dia,
Os camponeses iam à missa,
Era domingo.
Aquele torpor matinal
Fazia prolongado
O despertar da vida.
Nossos corpos enroscavam-se na rede.
Tudo aquilo fazia crescer a vontade de viver!
As buzinas haviam cessado,
O ônibus seguia seu caminho
Despejando e apanhando,
A cada parada,
Corpos sonhadores.
As buzinas voltaram
E a cigarra tocava,
Voltei a sonhar.