Não! Não sou poeta! Muito gostaria de o ser!
Apesar da poesia que sinto em mim...
Apesar do sentimento que me brota da alma...
Apesar das vozes que soam no meu íntimo,
Fortes, sonantes, abrasadoras, gritantes,
Querendo soltar-se, expandir-se,
Carregadas de um significado que mal adivinho,
Em busca de algo que pressinto, mas não defino...
Apesar do meu espírito que olha em volta
Num desejo de abraçar a Vida em todo o seu esplendor,
Da Infinitamente Grande, em toda a sua plenitude,
À infinitamente Pequena, invisível até,
Em quem ninguém nota, mas plena de grandeza...
Apesar das lágrimas que me escorrem da alma,
Perante a dor que se estende intempestiva
Alcançando as vidas que pelo Universo
Se acolhem e multiplicam sem fim,
Vidas que riem, sofrem, amadurecem,
Crescem rumo a um Sol que as aqueça,
E que em seus raios a dor esqueça...
Não sou poeta! Sinto como um poeta, sim!
Sonho com um Mundo em que a mais pequena dor
Logo tenha alguém para a sanar, abraçar,
Colmatar com infinito Amor!
Sonho com um Mundo em que a Vida tenha valor,
Desde o Homem, o inseto ou a mais singela flor,
Na cadeia infinita que une o chão da Terra,
Onde a semente se aconchega e dormita,
Antes de germinar e se erguer com esplendor,
À imensidão das galáxias que povoam o céu
Resplandecendo em bênçãos sem fim…
Sim, até poderia ser poeta, pelo que sinto,
Se as palavras que ressoam no fundo da minha alma
Conseguissem exprimir-se, autossuficientes,
Se se bastassem a si próprias,
Sem que eu precisasse de as alinhar e dar sentido.
Não sou poeta, eu bem sei que não!
Mas acredito na poesia que se esconde
Em cada um, em cada ser, em tudo, no Todo,
Nas alegrias e tristezas, na dor e no amor…
São quimeras? Pensamentos vãos?
O poeta em tudo acredita, tudo sonha!
Sabe que a Vida também é feita de utopias,
Que o Mundo avança por entre a ilusão.
Eu não sou poeta… mas não me importo de sonhar!
Lurdes Almeida Duarte
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