Um tempo sublime anestesiado pela cor dos meus dias.
Como uma luz de pedra, levas-me, tomas-me os desejos
E brilhas na constância de um anjo adormecido.
Não faz sentido o calor da madeira consumida no meu caixão
Quando o nome da despedida estalar no fogo, chora o degelo
Mas não me vertas, não me deixes cair do fundo dos teus olhos.
Admira a dor na seda das chamas, quentes memórias
Os corpos despidos, o cheiro só nosso que fizemos sexo
Admira, contempla tudo e sorri depois do grito metálico.
Das conquistas, das derrotas, podes beber o sangue das minhas feridas
E perseguir, perseguir, perseguir este meu sonho
Mas jamais sentirás o sabor da minha altura, a dor da minha queda.
Brilha então, brilha na constância de todos os anjos adormecidos
E deixa-me arder até ao fim, mais as memórias do sonho deposto
Não me chores agora, leva-me em cinzas contigo ao por do sol
Ao cimo da nossa vertigem, colina de amor e lança-me no vento
Deixa-me voar, deixa-me despertar os teus anjos adormecidos
Trazê-los ao inferno dos meus pensamentos e amar-te no além
Dispenso formas, os limites do corpo rendido ao veludo do sangue
Abstraio da matéria palpável, os toques no jardim, o beijo da morte
E respiro perfume, o teu, vivo nos pensamentos onde sou essência
Vivo na minha eternidade, onde sou finalmente o teu tempo.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.