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Dias alheios

 
Todos os meus dias são infalivelmente vestidos
da mesma lentidão sem peso,
como a imagem de uma estrada de terra
que persiste devotamente no existir precário,
incrustada num abandono plenamente obtido,
onde ninguém nunca vai.
São dias de uma força quente e grande,
e invariáveis, de paciência e resignação
com a miséria quase voluntária,
que é mais senhora de tudo que a água,
mãe do mundo.
Dias sem sangue, extirpados do sentido
que lhes devia amarrar ao nome,
dias alheios.
Porque uma vez eu quis dissipar
as neblinas dos meus olhos,
despertar a voz ferruginosa do meu peito,
beber os orvalhos que brotam no seio do inusitado, a alegria cogitar
- foi um crime de guerra sem propósito - prenderam-me.
Acorrentada, eu pago com meus dias os dias que ousei sonhar.







 
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Amora
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Enviado por Tópico
CarlosCarpinteiro
Publicado: 15/03/2008 20:15  Atualizado: 15/03/2008 20:15
Super Participativo
Usuário desde: 22/02/2007
Localidade: Mondeville
Mensagens: 196
 Re: Dias alheios
São noites em que o sangue não acontece.
Mesmo se ninguém pede para estagnar a hemorragia,
querer ja é ajudar e, ajudar ja é existir plenamente,
pois, se a espera foi inutil, o teu texto ele, é maravilho.
Abraço ternurento
carlos

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/03/2008 01:45  Atualizado: 31/03/2008 01:45
 Re: Dias alheios
Olá, Amora!

Texto reflexivo e inusitado, com pensamentar próprio de quem sabe pela paciência, possuir forças devotada'mente... Meus sinceros parabéns!

Pássaro das flores.