Atravesso a fronteira da minha pele
E oriento-me mesmo no abismo
Púrpura profundo das veias em pulsar
Rios de ondulações do ser que respira
Que faz um pacto colorido com as árvores
Permeabilizo-me envolvo-me entre átomos
Abarco o tronco onde a seiva contraria
A gravidade do corpo celeste anil ebúrneo
E num ápice sou folha verde acenando ao vento
Sou o sopro que sustém a planta
O líquido nutriente de que se alimenta
O motor que vibra em sonoridade viva
Como tambores que ecoam na selva da abundância
Ultrapasso a película da minha cútis
Plano por entre alvéolos pulmonares
Que me anunciam a poluição das criaturas
Os vícios as insanidades as loucuras
E de um ato de contrariedade alcanço
Outro ribombar outro espaço
Onde não há crivos nem dentes
Nem cruzes nem espinhos nem garras
Nem malévolas sementes
Nem sangue nem feridas nem balas
Nem matanças nem favos de decadência
Nem ovos de podridão nem crença
Nem mutilações nem doença
Para lá da minha pele
Esvaio-me em partículas de nada
Não quero saber de orientações
Permaneço incólume onde ficar
É provavelmente aí a minha essência
O meu genuíno lugar
Vídeo de José Lorvão
Poema de Maria Oliveira