[ É como o abandono da primeira infância, esta saudade de me dizeres coisa nenhuma. Os lugares onde fomos mágicos ressoam e ecoam na eternidade das recordações que não morrerão nunca. Sinto a frescura dos momentos em que sorrimos e bailámos como se fossemos infindáveis. Sem sair do sítio, os nossos olhos tocavam-se e nós bailávamos sob melodias tão perfeitas quanto autênticas. Sinto tudo isso como quem sente o mundo inteiro a penetrar pelos poros da pele e a alojar-se ali mesmo, na epiderme, para sempre. Depois, o silêncio das lágrimas a cair e a saudade de tudo aquilo que parte. A eternidade é um lugar perene onde se fica pouco tempo. Os costumes não crescem e as vontades afastam e afastam-se cada vez mais. Então, escolho viver o destino com outra vida. Deste quarto, olhar para o mundo com ternura e acenar-lhe. Depois, com os olhos embaciados, ser capaz de dizer em voz alta tudo aquilo que gostaria de dizer aos mortos, se adivinhasse vê-los, só mais uma vez! ]