PÁSSAROS E PENSAMENTOS
Penso num pássaro livre
Que ascende as luzes
Da minha cidade
Penso nele todos os dias
Livre do medo
Alimentando a inocência
De um menino
Que tem fome
Tem medo
Tem frio
Penso em ruelas silenciosas
Que guardam dores mofadas
Antigas
Dolorosas
Medrosas
Penso na beleza do silêncio
De uma criança nascendo
Daquele janela
Por onde anda cristalina
A luz
A paz
Do canto
Do pássaro que penso
Penso no verbo sem tempo
De um violino seresteiro
Rasgando o silêncio da noite
Dormem meus sonhos
Dentro de sua alma
À noite
A luz morre
À noite
A dor corre
Penso na ferrugem da estrada
Atravessando a parede do meu quarto
Meu quarto
É uma história esquecida
Gentil condena o silêncio
Do pássaro que foge
Penso na mão
Que liberta esse pássaro
Senil e ingênuo
Caminho sublime da liberdade
José Veríssimo