[Ser o tempo. A mesma linha ténue que nos faz coexistir no seio de coisa nenhuma.
Escolher os lugares. Encontrar dentro deles uma indescritível esperança.
Sobrevoar o céu azul e decorar o picotado das nuvens como se nunca mais as fossemos ver.
São assim as memórias: verdadeiramente atemporais. Pedaços eternos de saudade que tentamos amordaçar para não sofrer. Por isso, às vezes, grita-se! Sentimos a dor do lado esquerdo do peito a bater forte enquanto tentamos segurar a água salgada que teima em escorrer-nos pelos olhos, molhando-nos o rosto inteiro.
Tu és o lugar mais-que-perfeito de onde nunca quis sair. Agora, de fora dele, percebo que o que mais dói é tudo aquilo que não se fez. Os beijos e os abraços que gostava de te dar agora... Decorar-te o olhar dócil mais ainda. Agora, sentar-me contigo mais um pouco e olhar-te. Somente puder olhar-te e contar-te - tão simplesmente - as peripécias dos meus imensos dias. Lado-a-lado contigo, à esperara que, vendo-me sorrir para ti, sorrias comigo.
Com as mordaças na boca e com a saudade toda acorrentada ao peito, vivo numa ânsia desmedida de querer congelar o tempo e de querer congelar-te comigo dentro do tempo. E que não passe nunca esta vontade. Que eu e tu nos possamos ver a permanecer ali - sem lugar e com todo o tempo - para sempre.]