Trais-te
sempre.
Sempre que permites que o erro surja.
Sempre que erras com um propósito.
Dentro da mais pura
hesitação.
Pensas se sim,
pensas que não,
ou foges do pensamento.
Trais-te
sempre.
Sempre que achas na terceira pessoa
um futuro falho.
Sempre que denigres a tua vocação.
Dentro da mais pura
certeza
rendes-te ao ciúme,
rendes-te ao deboche... do arrependimento.
Trais-te
sempre.
Sempre que ficas dividido.
Sempre que te perdes em contas de multiplicar
de cabeça.
Dentro da mais pura
distracção
(aquele sorriso
que não sabes esquecer).
Trais-te
sempre.
Sempre que a mentira te consome.
Sempre que as mentes, brancas, pálidas.
Dentro da mais pura
das verdades.
Falsidades que constróis
aos olhos dos outros.
Falsidades em que te esqueces que os outros, és tu!
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.