Sou prisioneira neste barco a remos
Que vagueia pelo mar adentro
Procuro mas os olhos não vislumbram terra firme.
Ondulo ao saber do vento
Haste partida, velas rasgadas.
Boca sedenta sob o calor abrasador.
Os meus dedos tocam ao de leve a água
Negra. O fundo não avisto.
Sigo sem norte, sem guia, sem nada.
Fome que deixa o estômago num nó.
Deito a cabeça no chão de madeira velha.
Sussuro: “Esqueceste-Te de mim!”
Deixo-me ir. Já não resisto, não insisto.
Que me engule este mar sem dó.
Mas eis que – estarei a sonhar –
Vejo uma luz brilhante espelhada naquelas águas.
“Morri?”, pergunto na certeza da resposta.
“Será um dia a tua hora. Mas hoje ainda não.”
O barco segue a sua viagem, como se soubesse
O destino, sem precisar do meu comando.
Os braços que seguram os seus remos
Não são os meus. Os meus pés pisam
Por fim terra firme. Arrasto-me e deixo-me
Cair. Choro: “Lembraste-Te de mim!”