O que é a minha pátria?
Uma puta parida jogada, na poeira do asfalto, do lado da estrada?
Uma criança sem lápis, olhos e cadernos, perdida na avenida?
Minha Pátria não é assim...
O que é a minha pátria?
Um monte de terra que em teu colo goza o cego mercenário?
Um pescoço descarnado que a foice corta, como os machados as lenhas?
Minha Pátria não é assim...
O que é a minha pátria?
Um hino lindo que bandidos e políticos sonsos , todo iguais, cantam sem continência?
Um monte de homens e fuzis, todos armados, cheios de balas que crianças não gostam?
Minha Pátria não é assim...
O que é a minha pátria?
A fome do Norte abraçada ao Nordeste e um sorriso distante de um Sudeste?
Uma guerra mundial diária no meu quintal e ainda acho graça quando ligo a TV?
Minha Pátria não é assim...
O que é a minha pátria?
Esse bando de eleitores famintos, escornados numa fila, se nem sabe pra quem rezar?
São tantos os morros e milhares de balas perdidas matando inocentes, todos da nossa terra!
Minha Pátria não é assim...
O que é a minha pátria?
Minúscula, por não ser grande, ou e ser assim, por tantos homens que a fazem pequena?
Que me valham e a nós os grandes, pois, não rezo à toa, não perco meu hino, tenho medo!
Minha Pátria é assim...
O que é minha Pátria?
Quem sabe a minha Pátria seja:
Uma criança querendo colo, um sal querendo sol, querendo carinho, querendo caminho?
Um lenço que se despede de um adeus, um corpo que agradece o calor de um abraço!
Minha Pátria é essa...
O que é minha Pátria?
Quem sabe a minha Pátria seja:
Uma criança que acorda sem choro, sem balas, num berço que é o braço de um pai a ninar?
De uma mãe faminta, que acorda dentro de um milharal ou de um trigal, onde a fome sorri?
Minha Pátria é essa...
Minha Pátria!
Minha Pátria é essa...
José Veríssimo