Contos -> Terror : 

Ilusion...

 
Um dia, eu estava sobre o telhado de casa e olhava as nuvens lá fora... Era um dia calmo e frio, uma chuva de inverno se aproximava devagar, arrastada pelo vento. Sabe, quando se respira o ar gelado, e ele entra abrindo e refrescando os pulmões, como se fosse a primeira vez que respiramos? Pois então... eu tinha feito isso.
Algo, ou alguma coisa, semelhante a uma luz, aproximou-se, como que saída do sol, tinha o formato pentagonal, com brilhos coloridos em volta, em cada ponta havia uma cor diferente que pulsava.
Essa coisa, ou esse alguém, parou por cima de mim, e me olhou, quase que com a mesma curiosidade com a qual eu o observava.
Ficamos ali, os dois, como seres passivos, esperando um a reação do outro... Havia muita paz naquilo tudo, e um misto de indefinível mistério, que eu queria que jamais terminasse... imaginei que a parte de lá também sentisse o mesmo.
Era algo do tamanho de um ser humano, não me parecia eletrônico ou mecânico. Era mais como um reflexo difuso na água.
Aquela bela coisa se contorceu e torceu-se em si mesma, e desceu da pequena altura em que estava para fazer-me companhia sobre o telhado. Mas agora ela tinha a peculiar forma humana! Forma perfeita, e a que melhor trabalha a pressão atmosférica aliada à força da gravidade, distribuindo da melhor maneira, a capacidade cognitiva do cérebro à capacidade mecânica do corpo. Enfim... foi assim que se apresentou a mim.
Tinha a pele azul, um azul-esverdeado fundo de piscina, e as feições de uma pessoa comum, conquanto, para mim, mais perfeitas. Eu não saberia explicar como, mas eram... Os olhos grandes, grandes o suficientes para deixar impresso ali as suas emoções. Digo isso por que eu lia perfeitamente em seus olhos os seus sentimentos e intenções, e dava para saber quando ele/ela, estava triste ou alegre, apenas observando os seus grandes olhos verde-musgo.
Quando falava, ou queria falar, na superfície de sua pele dançavam luzes multicores, às vezes como serpentes que subiam e desciam, às vezes, como confetes que se jogam pra cima e deixa-se cair. Semelhante em muito, aos peixes que vivem em regiões abissais. Eram muitas cores, e o efeito delas em sua pele azulada era algo como que, indescritível e maravilhoso!
Sentou-se ao meu lado, como um amigo faria ao encontrar o outro descansando na beira de uma estrada qualquer, e sorriu pra mim com os seus olhos, apenas eles falavam comigo.
Contou-me certas coisas, das quais, confesso, não ter entendido a grande maioria, embora desejasse muito, pois me transpareceu ser de grande sabedoria e verdade, e até mesmo, reveladoras. Reveladoras a ponto de deixarem perplexos os mais ousados cientistas e a mais absurda equação matemática ainda não criada pelo raciocínio abstrato de padrão humano - talvez por isso eu não tenha entendido grande coisa...
O pouco que apreendi dizia respeito ao fato de que muitos já sabiam da existência de seres como ele. Mas o medo de muitos da nossa gente, de perderem privilégios históricos injustamente adquiridos, de negarem, por simples orgulho, coisas pelas quais lutaram tanto para negarem, de contradizer credos filosóficos e religiosos elitistas... O que é a linguagem humana, dentro de tantos idiomas de estruturas diferentes, para que possa definir o que existe ou não? Ou mesmo nos definir no mundo? Apenas com os seus olhos, me disse mais do que todas as vozes que eu já ouvi.
Quando se omitem verdades, deixa-se para trás a justiça.
Ao defenderem teorias econômicas exploradoras, destruidoras e cruéis, temendo admitirem que outros seres só alcançaram a verdade, ao apoiarem-se mutuamente e dividirem - admitir que seres evoluídos aqui cheguem, é admitir mudanças profundas na sociedade - Ora, seres evoluídos não aceitam o nosso sistema e a nossa política (até nós sabemos que ela é errada!) - Assim, deixa-se para trás a chance de mudança.
Defender teorias construídas sobre apenas 300 anos de ciência, em benefício de uma minoria abastada e interesseira, que só pensa em garantir os seus privilégios, em detrimento de bilhões de pessoas e de bilhões de possibilidades além de lógica matemática e especulações ( pois, de cem em cem anos, tudo o que se considerava verdade científica cai por terra, para dar lugar a conhecimentos novos, que por sua vez, cairão por terra, de novo, cem anos depois...) Deixaram para trás a bondade.
Perguntei por que não se apresentam, mesmo contra a vontade humana? Eles são pacatos, sábios e justos demais para isso. O mundo é nosso, e fazemos dele o que quisermos - ali eu entendi, então, por que são evoluídos...
Este Ser não era um alien, pelo menos, não como pensamos. Está muito mais perto de nós, do que poderíamos imaginar, como um irmão que nos conduz pelas mãos, ao atravessarmos a rua. Ele era muito mais espírito que matéria, e muito mais alma do que mente. Acena para nós todos os dias, ora como luz, ora nos nossos sonhos, às vezes, no nosso dia a dia... esperando que o percebamos... pois a nossa mente precisa querer vê-lo! Deve tudo ser, uma transformação gradual. Há milhares de anos eles vêm tentando fazer isso, pacientemente...
E a grande sacada de tudo isso, é que a verdadeira realidade que nos escapa, é mais fantástica do que a mais fantástica de todas as fantasias!
Pensei que era um sonho, ou uma ilusão...
... e foi me dito:

De que são feitos os sonhos?
Alguns perguntam, outros perguntarão...
Os sonhos são feitos de sonhos...
Não são feitos de ilusão.

Mas se tudo é ilusão,
Como pode o sonho não ser feito
Ainda que por demais perfeito,
Daquilo que engana o coração?

Porque por demais imperfeito,
Arte pouca da criação,
O homem sempre encontra um jeito
De enganar o coração!

A ilusão é apenas uma palavra, na verdade.
Apenas tem sentido se ouvida,
Naquela mentira sentida,
Da ilusão da falsidade.

Que a humanidade, de coroa lustrosa
Na crença desmedida,
Que não há no mundo melhor medida
Que a sua espécie orgulhosa!

Mas como pode ser rainha,
Se não respeita da semente à flor,
Tudo não passa de ladainha,
Pois é incapaz de fazer qualquer coisa, simplesmente por amor.

E apenas, se der uma simples espiada...
No céu azul de abobada estrelada,
E na humildade permanecer...
Perceberás que há muitas coisas que jamais poderá entender.

E ainda restam muitos anos, na verdade...
Para se destruírem mutuamente...
Esse é o destino da humanidade.
Eles não têm outra coisa em mente!

Para aqueles que duvidam, brevemente ver irão
A história é minha testemunha assaz,
O homem jamais pensou em dividir, ou amou a paz,
Assim como olhar o outro como irmão.

Permanece então, o clamor profundo
Onde vive de fato a ilusão?
Ao redor do mundo...
Ou dentro do coração?





O que mais vamos deixar para trás?


j

 
Autor
London
Autor
 
Texto
Data
Leituras
538
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.