A redação de poesia beneficia o aluno no processo crítico e criativo, bem como na leitura e crítica, levando-o a questionar e a refletir sobre os valores e os problemas da vida. Faz com que ele a aprecie nas suas qualidades poéticas como a beleza, a harmonia e a simplicidade que, além de serem percebidas no poema, também são vistas nas pessoas e na vida. Outro benefício é melhorar a apresentação daqueles com linguagem limitada, como também aumentar a motivação e os hábitos de leitura de poesia e de literatura. O autor também indica a influência e a importância terapêuticas da aprendizagem da poesia sobre a saúde mental e as dificuldades e conflitos emocionais dos aprendizes (XERRI, 2013).
A criatividade é muito importante no nível social e incentiva os indivíduos a serem pioneiros e a progredirem em ciência, tecnologia, saúde e arte. Ela é relevante para o nível global da sociedade e pode ajudar na realização de um mundo mais interativo na civilização humana, podendo também ser importante na solução dos problemas da vida real para todos os indivíduos. E o ser humano não teria avançado nas invenções, nas descobertas, na ciência, na literatura e nas demais artes se não houvesse este processo (SAK, 2004).
O processo criativo se relaciona com a prevenção de problemas, à medida que auxilia o indivíduo a desenvolver seu potencial e a facilitar a emergência de suas forças internas na resolução de problemas presentes e futuros (WECHSLER, 1993).
Novaes (1971) considera que os textos poéticos dão a oportunidade de refletir sobre os problemas do homem e da vida do homem. E possibilitam-no a questionar e refletir em face dos valores existentes, pois o material do poeta é ele mesmo e a sua vida, e assim a poesia pode expressar a sua experiência, a do outro e a do mundo.
Por sua vez, Freud (1906) considera a obra literária como um devaneio, a continuação ou o substituto da brincadeira infantil, e que a satisfação de usufruir da leitura de uma obra literária conduziria a uma liberação de tensões na mente do escritor e possibilitaria a ele obter o deleite de seus próprios devaneios não tendo assim autoacusações e vergonha.
Alguns estudos mostraram a importância da leitura ou da escrita de poesia para a melhoria clínica de alunos ou pessoas, os quais indicaram a função e a importância terapêutica da poesia. Para Mazza (2012) a redação de poesia foi útil para melhorar a autoestima, a solução de problemas, a interação social e o comportamento pró-social de jovens. Kaufman e Kaufman (2007) corroboram a importância do uso da poesia para ajudar na dificuldade emocional da dor. Staltaro (2006) afirmou que a poesia aumentou certos processos internos e positivos, tais como insights, e diminuiu os conflitos interiores. Também Vass (2002) mostrou que a escrita de poesia melhorou as dificuldades de saúde mental de jovens.
Pode-se dizer que é comum às pessoas no mundo atual caírem no ativismo, correrem muito e terem uma vida superficial e vazia. Assim, considera-se que a poesia lembra a espiritualidade, a religiosidade, a alma e os sentimentos. E que se pode com a poesia obter os valores mais dignos da vida, como o amor e a solidariedade, a beleza, o bem, a justiça, a verdade e a liberdade. O poeta traz vários ângulos da existência bem como mostra a importância do sentido dela. A poesia leva o leitor a refletir, a contemplar, a meditar e a dar um maior significado ao existir (HUSSEIN, 2013).
A seguir serão apresentadas algumas concepções de teorias psicológicas e as considerações de alguns autores a respeito da natureza da poesia.
Jung (1987) salientou que seria uma ilusão do consciente a convicção do poeta de criar com liberdade absoluta. A verdadeira obra de arte tem um sentido especial no fato de poder libertar o escritor das estreitezas e dificuldades insuperáveis de tudo o que seja pessoal, elevando-o para além do efêmero.
Já Wescott (1968) concebeu a intuição gestativa ao referi-la como uma reestruturação do campo perceptivo, em que o aluno perceberia repentinamente novas possibilidades de ação que o levam à solução. Ele considera a intuição como uma forma de comportamento inferencial, definindo-a como o fato de o indivíduo chegar a uma solução utilizando-se de menos informações necessárias.
Vygotsky (1987) afirmou que há o interesse na noção de linguagem privada como um tipo de locução dirigida e regulada pelo autoconceito quando os alunos se deparam com os desafios. O autor afirma que os aprendizes têm a linguagem interior que expressa as estruturas estabelecidas da linguagem. E acrescenta que a natureza da composição poética oferece-lhes a habilidade de brincar com a linguagem, que tem significados próprios. Considera que as concepções da escrita da poesia são como um processo criativo no qual o trabalho imaginativo ou brincar é complementado pela razão.
Deve-se acrescentar que o poeta Ferreira Gullar (2009) afirmou que “A poesia é um difícil ofício de expressar a vida, naquilo que ela tem de belo e dramático”. Ainda, o escritor Cipro Neto (2010) disse que “[...] os poetas são seres enviados por Deus para traduzirem a alma humana”. Portanto, parece que o primeiro autor enfatiza a inspiração dos poetas, que se dá por meio da experiência e vivência da pessoa quanto aos seus dramas, questões culturais e ao meio, enquanto o segundo acha relevante para a criação expressar aspectos religiosos e psicológicos.
Hughes (2006) realizou um estudo baseado em entrevistas de proeminentes poetas contemporâneos canadenses para explorar a natureza da poesia. Ela encontrou que a natureza dela é variada ao usar uma nova mídia para isso.
Nesse sentido, ela cita definições de vários autores, como a de Smith (1977), para quem a poesia é altamente organizada, complexa e que o poema seria a recriação unificada da experiência em que há o máximo de significado e sons com o mínimo de palavras. Ela propõe a definição de Hirshfield (1997), que considera a poesia como a clarificação do ser e que o poema expressa a musicalidade nas palavras e traz modos diferentes de conhecimento tanto para a compreensão de si mesmo como para a existência.
Também esta autora cita vários autores, segundo o dicionário, como a escrita de uma tarefa imaginativa baseada nas experiências expressas em linguagem com significados, sons e ritmos. Outro dicionário a define como a expressão de pensamentos elevados ou sentimentos em forma métrica ou rítmica; e outro a conceitua como uma forma de arte que usa a linguagem. Os poetas usam a beleza na expressão de sua linguagem e palavras com mensagens cheias de sentimentos.
Uma característica importante apontada pelos poetas e críticos literários sobre a poesia é a estética ou a beleza do poema. Desse modo, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1992) enfatiza a beleza expressa na poesia quando reflete sobre ela ao afirmar e acreditar com o mesmo fervor na beleza da palavra e no texto elaborado com arte. Assim, ele considera que aprendeu a gostar da literatura por meio do entusiasmo que ela provoca no leitor quando ele se depara com o texto bem escrito.
Dewey (1933) identificou a imaginação como um modo de expressar a experiência estética. Ele falou das experiências de vida interior profundas que levam o leitor a expressar seus sentimentos de beleza. Disse que estes sentimentos, pensamentos e intuições incluem o autoconceito, as pessoas, os lugares e o mundo. A beleza é, para ele, uma aura de fantasia, emoções que expressam a vida interior, o mundo, o espírito, uma coisa, um lugar e outra pessoa. É importante para os alunos o conhecimento poético para expressar a beleza.
Concluiu-se sobre a importância de ter opiniões variadas do que seria a poesia para se obter uma melhor compreensão de sua natureza e complexidade. Portanto, aponta-se que ensinar leitura e escrita de poesia aos alunos é uma tarefa difícil. Esta última questão será tratada no próximo item.
Carmen Lúcia Hussein é Doutora com Pós-Doutorado em Psicologia do Escolar no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.