<br />Não há vi senão quatro ou cinco vezes, era destas mulheres que causam dor no peito quando contemplada. Apenas um vago olhar de soslaio, foi suficiente para que um punho de ferro me estourasse o peito e uma bem vinda asfixia me fizesse esquecer a existência do ar .Sua presença bastava para esvaziar o tempo e o espaço, a angústia invadiu-me obrigou-me a experimentar comovido o medo da perda da primeira mulher, que jamais tive.Descompor sua imagem, dimensionando a densidade, o volume, a textura, os cabelos jogados acariciando-lhe o rosto, a pele de pêssego maduro, a boca que acariciava palavras que eu precisava ouvir, os olhos que dispunham da cor do Atlântico e do Mediterrâneo conjugadas numa inédita cor marítima, sensações intimas que mantive por anos.Com os olhos nublados de saudades, pressentindo quem sabe, meu derradeiro comportamento adolescente, andei pela areia deixando que a brisa do mar me acariciasse o rosto , para ver se acontecia o encontro com a mulher da minha vida.Apenas vi seu rosto bordado em rendas no quebra-mar das Astúrias branco sobre verde, o seu olhar transparente e marítimo, as ondas jogando seus cabelos que acariciavam sua face, o sorriso iluminado transmitindo verdades como as ocultava, o seu corpo flutuante, revi seu silêncio no intervalo das ondas que bordavam seu rosto em rendas de espuma que a areia enxugava.Fecho os olhos e quando os abro, apenas ouço o marulho das águas e a solidão do mar já noturno.
Carlos Said