Sobre o arvoredo e o banco lá da praça,
vejo cair a chuva já agora sossegada,
não me incomodam os pingos na vidraça,
espargindo a névoa sob a luz dourada,
mansamente molhando folhas no caminho.
Mas, ainda há pouco, só há um pouquinho,
tão violenta rugia lá fora a tempestade,
grave o fragor era sobre toda a cidade.
Foi a chuva intensa que fustigou em riste,
deixando a rua confusa, o centro inundado.
Tênue era a luz que bailava em aura triste,
e para a chuva falava em tom embargado:
“- Quando suave nos salgueiros da vereda,
fazias vivas as folhas com toques de seda,
já foste a chuva de outono na vivacidade,
e hoje cais tão cruel em triste tempestade.”.
“ Era suavemente que tocavas os telhados,
com gotas delicadas tais contas de cristais,
ora vergastando com violência os beirais,
derrubando os ninhos mais bem cuidados.
Nessas gotas que desabaram tão bravias,
não caiam mais líquidas pérolas luzidias,
meios às nuvens escuras estavam inundações
turbilhão no céu, cheio de brilhos e trovões.”.
E balbucia a chuva, de sentimentos tomada,
dirigindo-se à luz que tremeluzia ora calada:
“- Peço-lhe desculpas se causei qualquer mal!
Eu dormi, e sonhei... sonhei que era temporal.”.
® Luiz Morais
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."