Tenho numa cómoda em casa
um Cristo sofredor pregado numa cruz
quem chega, fica arrepiado, não diz nada,
ao ver ali aquela imagem à contraluz!
Estendido num "madeiro de pau santo"
a cabeça reclinada sobre o peito,
semeia nos olhares dor e espanto
quando fixam o seu corpo em vão desfeito!
Que tristeza ver seus olhos enevoados,
parece que o não quiseram matar logo
p'ra morrer antes, vendo os nossos pecados!
E um fio de sangue lhe escorre pelo rosto!
Na minha casa há um Cristo cego e louco
morrendo, há mais de dois mil anos, pouco a pouco.
Ricardo Maria Louro