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ATROPELAR

 
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ATROPELAR

Certa vez numa viagem de carro, o motorista com quem eu estava, sem querer atropelou um pastor alemão, que infelizmente morreu na hora.

Aquilo me marcou por muitos anos, e sempre revivia a força do impacto do corpo do animal contra o para-choque do carro.
Sei que foi sem querer, o animal veio correndo e não tivemos como impedir.

Por que eu falar disse agora?

Talvez o quadro sentimental que marcou minhas memórias sirva para comparar outras situações que marcam, que fazem doer.

Talvez seja isso que acontece quando brincamos com os sentimentos dos outros... sem querer podemos “atropelar” as pessoas. Feri-las profundamente, por assim dizer.

A vida é um “carro” nos dada pra guiar, e seguimos com a velocidade que escolhemos, com mais ou menos prudência, e vamos com nossos sonhos, sorrisos ou lágrimas, revelando quem somos nós, e num belo tempo dessa rota, nos encontramos numa estrada ensolarada, sem saber do que o espera na próxima curva.

E vem o choque!! Pá!

Sim, eu talvez fale aqui como sendo o pobre cão que morreu agonizante, ou a pessoa que ferida, crédula de ser amada, é atropelada por ilusões.

Mas falo aqui como sendo quem guia o “carro”, que acreditando que o percurso é seguro, que o sentimento alheio não é tão frágil, acabamos, “atropelando” corações, e “matamos” esperanças inocentes.

Relações pessoais as vezes carregam essa gama de dor. Infelizmente eu já agi como quem atropela, quem sem querer, feriu.

E, em casos assim, com o amadurecer do tempo, se acautela nas entregas, pondera-se nas palavras, ou até, se limita em ser só, por temer ferir novamente.

Talvez um dia, o perdão venha, do outro e de si próprio, mas as consequências, os cacos ficam, mesmo juntados, não se apagam as marcas.

Quem sabe, poder voltar a dirigir pelas estradas que carregam vivencias, tantas histórias e sonhos ainda não realizados. Aplacar o medo de não machucar mais ninguém. De querer, de provar, de começar de novo.

Quem sabe...Talvez...permitir-se ao "volante" com as cautelas da razão, lembrando que corações são frágeis...


As vezes fico fazendo comparações, e escrevo minhas bobagens.
 
Autor
Branca
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Enviado por Tópico
Ro_
Publicado: 21/03/2017 14:29  Atualizado: 21/03/2017 14:29
Membro de honra
Usuário desde: 25/09/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 3985
 Re: ATROPELAR

Maravilhoso texto, poetisa querida!
Me faz pensar...!
Um beijinho!

*-*


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/03/2017 17:42  Atualizado: 21/03/2017 18:09
 Re: ATROPELAR
Eu esperava um texto seu....e como “castigo” agora tento organizar esta tempestade de palavras e sentimentos que caem sobre minha cabeça. Há muito aqui escrito...sua comparação com carros e atropelamento, com o trânsito do dia a dia é sensacional. Assim como há diferentes motoristas há diferentes atropelados e seria impossível aqui falar de cada um na forma que imagino.
Cometemos erros, muitos e cometeremos mais, não há dúvida disso, mas em algum momento as coisas mudam, a partir de um determinado instante (geralmente causado por alguma dor) começamos a ver o mundo com outros olhos e percebemos o tamanho de nosso erro, quanta dor, quantos ferimentos se abriram por nossa irresponsabilidade. Chega o arrependimento....amanhece a determinação de Caminhar em outra direção. Mas se arrepender não se resume a duas ou três palavras, se arrepender implica em reconhecer o erro, pedir desculpas, retratar-se de alguma forma e ter a atitude de não mais comete-lo, e isso não é fácil, tenha certeza...mas sei que muitos não chegaram a esse ponto, cada um em seu tempo físico e espiritual. Já estivemos nos dois lados, acidentados e causadores, e não há vítimas aqui, posso lhe falar isso com muita serenidade...causa e efeito.

Quando você fala naqueles que tem medo de ferir novamente, um texto que escrevi me vem latejando. Perdoe-me por trazer um trecho de “ Por entre lobos e estrelas”:
Mas onde estão os lobos?
Eles sabem bem disso
No seu enorme amor
Se lançam de encontro
Mas esquecem que suas garras causam dor
Fazem sangrar
Tornam-se impróprios
E uivam solitários na direção das estrelas
Simplesmente porque não sabem abraçar
E erram e machucam e de novo e mais uma vez
Quem disse que os lobos não sabem amar?
Mas eles machucam...
Talvez não saibam
Mas trazem a consciência dolorida
E elevam seus olhos não à lua mas às Estrelas
E retirando força do medo que tem
Uivam para que elas os escutem...

Entende o que quero dizer?? Sei que sim...
Você fala sobre os cacos, ah minha amiga...”..trago um outro trecho...
"Quando os japoneses reparam objetos quebrados, eles enaltecem a área danificada preenchendo as fissuras com o ouro.
Eles acreditam que, quando algo sofre um dano e tem uma história, torna-se mais bonito.
A arte tradicional japonesa de reparação de cerâmica quebrada com um adesivo forte e spray, imediatamente após a cola, com pó de ouro, chama-se Kintsugi.
O resultado é que as cerâmicas não são apenas reparadas mas tornam-se ainda mais fortes do que seu estado original. Em vez de tentar esconder as falhas e fissuras, estas são acentuadas e celebradas como as que se tornaram, agora, as partes mais fortes da peça.”

Eu sei que as marcas ficam e nos ensinam, mas precisamos aprender a perdoar de fato...não concordo com a frase que se fala por aí sobre a confiança perdida nunca poder ser recuperada, porque as pessoas mudam, crescem, amadurecem. Não não é fácil perdoar...
Que paremos de procurar o amor de forma tão equivocada. Precisamos mudar quem somos, precisamos crescer, aí sim o amor começará a despontar junto aos raios de sol. Precisamos acima de tudo nos perdoar, mas nos perdoar de fato, sendo humildes, renunciando ao que exige nosso orgulho e vaidade, servindo aos que amamos.
Isso não é teoria, não!! Diga quem quiser, existe amor, claro que sim, mas precisamos fazer melhor do que estamos fazendo...
Começar de novo, sem dúvida!!! Cada vez que caímos, começamos de novo, e conseguiremos. “permitir-se ao "volante" com as cautelas da razão, lembrando que corações são frágeis...” me permita acrescentar ao lado da razão, serenidade, sensibilidade e dedicação.
Minha querida Branca , não sei se consegui acalmar a tempestade, mas teu texto foi algo de único e maravilhoso. Fica com Deus. Perdoe-me pelo comentário tão longo....

PS : a música não foi esquecida e trouxe a nostalgia de velhos tempos....


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 30/10/2018 11:13  Atualizado: 30/10/2018 11:13
 Re: ATROPELAR
..."E, em casos assim, com o amadurecer do tempo, se acautela nas entregas, pondera-se nas palavras, ou até, se limita em ser só, por temer ferir novamente."
Um outro olhar para o clássico. Parabéns pelo texto.