V
ninguém escreve decassílabos aos telemóveis
e muito menos tragédias.
ei-los que tocam desgarradas
nas escuras salas de cinema,
onde todos os romances são possíveis
e todas as aventuras acontecem...
as grandes e as pequenas!
não oiço rimas quebradas
aos astros no firmamento,
aos peixes no mar
e aos homens na terra.
nem à tragédia de Camões zarolho
em guerra com as Ondinas,
aflito a nadar.
VI
repara bem no que te digo:
é uma pena que o Alegre
não escreva poemas menos sérios
e que os sermões do Vieira caminhem,
como loucos,
do zénite e dos cardumes
ao nadir e aos costumes.
tristes estão os escamudos na água!
mudos na terra
com a mudança os homens!
sem palavras!
VII
e ao sétimo dia
revelam-se todos os vocábulos.
é a poesia.
é ela que tudo destapa.
e nada escapa ao primeiro léxico
dos primo poetas que no banho,
na espuma das águas irmãs
do Tigre
e do Eufrates,
mergulham na palavra única.
era quando nem fala ainda havia,
porque Babel crescia entre zigurates
do tamanho da língua antiga:
que era una.