Não sabia como sair daquela insuportável reunião, pressentia que ia ser despedido de qualquer das maneiras, por isso nem valia a pena dar a volta ao Diretor. A sacana da Carla devia estar a dar pulos de alegria, desde há cinco meses que andava a fazer queixinhas e queria a todo o custo ver-me pelas costas.
– Estás a ouvir-me? – Perguntou o Sr. João, o meu Diretor de Secção. O Sr. João é uma pessoa bastante descontraída, cinco estrelas, tenta ajudar-nos em tudo. Aquele bigode é que era dispensável, fazia-o mais velho do que era.
– Sim, Sr. João. – Mentira, nem sei no que estava a pensar, talvez em ir dar banho ao gato quando chegasse a casa, claro agora podia dar-lhe banho todos os dias, já estava desempregado como tantos outros portugueses.
– Miguel, o João finalmente convenceu-me que o que fizeste não é assim tão mau. – Disse o Dr. Joel, o Diretor Geral mais parvo que já tivera, talvez por ser quem era… Cabelo grisalho, baixo, sempre com os óculos no bolso do casaco e com uns quilinhos a mais.
– Não vou ser despedido?! – Perguntei espantado.
– Não!
Saltei da cadeira e dirigi-me ao Diretor Geral e dei-lhe um beijo na testa.
– Obrigado, muito obrigado.
– Este tipo é mesmo maluco, se não fosse um dos melhores jornalistas da News Page...
Trabalhar numa redação de um jornal é complicado, os cubículos não são muito grandes, por isso o meu estava sempre atulhado. Encontrava-me numa das pontas do corredor, tendo acesso total para o exterior. Neste dia o céu estava nublado, porém há três dias que não se via o Sol e fazia um frio de ranger os dentes.
Sendo um pouco provocador, enviei um e-mail à Carla, a minha colega favorita, a dizer que ainda não era desta que tinha conseguido pôr-me na alheta.
"Daqui a pouco deves estar a chatear-me a cabeça" Pensei para com os meus botões.
Não passou mais do que dois minutos.
– Miguel... – Gritou do seu cubículo completamente histérica.
– Precisas de alguma coisa? – Respondi do meu.
– Senta-te à minha frente, já! – Mencionou toda alterada, fora de si.
Acho que nunca a tinha visto assim, o vermelho era a cor predominante em todo o seu rosto. Senti que ia sair de ali extinto, mas fui salvo por uma luz luminosa, o telemóvel, era a minha amiga Alessandra.
– Desculpa Carla, mas tenho mesmo que atender.
Alessandra, queria combinar comigo uma saída no sábado, como estou sempre disposto para uma noite bem passada e também ia estar o grande Ricardo, desaparecido há meses.
Alessandra tem descendência italiana, está em Portugal há dez anos. Demonstra um grande coração, porém está sempre disposta a ajudar os seus amigos e tem uma capacidade enorme para ouvir as pessoas e os seus conselhos são úteis para certas contrariedades da vida. Tem um sorriso contagiante que provoca aquelas covinhas lindas no seu rosto branco e quando há algo que não lhe agrada faz uma careta engraçada. Distante muitas das vezes. Estatura média, olhos verdes, um nariz pequenino, mas por seu lado arrebitado e tem cabelo negro encaracolado fixado nos seus delicados ombros.
Posteriormente, Ricardo, um jovem alto, bem constituído, cabelo louro, olhos claros, rosto redondo, um brinco na sua orelha esquerda e um piercing no lábio inferior, também umas tatuagens espalhadas pelo corpo. Anda sempre com a cabeça no ar, mas apesar das suas distrações normais é um miúdo espetacular e com um enorme coração.
Bruno Miguel Inácio