– Não acredito no que acabei de ouvir! Como podes dizer uma coisa dessas sobre o pai da tua filha? – Perguntou bastante intrigada, com um rosto de indignação.
– Respeito a decisão dele – beijando a sua testa carinhosamente.
Ao quinto dia do mês de abril, faria um ano que Miguel acordava para uma nova realidade. Muitos dos seus amigos e familiares, não sabiam como lidar com ela, uns aceitavam, outros não queriam pensar num desfecho tão cruel. Ficaram chocados com a decisão tomada de um homem morto… morto por dentro, que já nada podia fazer.
Em certos momentos da vida somos obrigados a escolher por uma das vias de um caminho bifurcado e ele escolheu o seu. Tudo o que se faz tem as suas consequências, as consequências dessa sua decisão, fizeram com que pessoas ligadas durante uma vida se afastassem. Nestes momentos, tão difíceis para um Ser Humano, comprovamos quem nos ama verdadeiramente.
A sua filha, ainda pequena, apesar de não ter noção do que se passava à sua volta, cada vez que se enroscava nos braços de Miguel, notava-se claramente uma ligação de amor, nunca antes testemunhada. Aquela menina tinha todos os seus traços quando este era pequeno, dito pela mãe de Miguel.
– Mãe, não vamos voltar a ter esta conversa, pois não? – Bufando secamente as palavras, porém beijando a nuca da sua bebé.
– Este hospital, essa…
– Amor, está na hora de dar de mamar à nossa pirralha – interrompendo a sua mãe – Lis, está na hora da mama – a companheira de Miguel retirou a pequenita dos seus braços e voltou a sentar-se no cadeirão castanho-escuro.
Mãe e filha, um amor de predição, um laço que nunca será esquecido no tempo. Um raio de sol transbordava por uma palheta da persiana e iluminava aquele pequeno anjo.
Há momentos da vida, em que não sabemos como adquirir certos mandamentos, pois ainda continuamos a pensar sistematicamente como haveremos de respeitar o próximo.
Bruno Miguel Inácio