<br />Começara sua ausência numa comunhão de sonhos invertidos, vagando na cidade das certezas inúteis, que não levam a origens ou limites.Do frio na espinha do vôo retorno, do céu que se avizinha, e nas luzes tantas da cidade pintada com guache inocente e lambido, saberá que num dos retângulos sem prumo das janelas abertas estará este seu amigo .Pedindo desculpas ao sabiá que habita a arvore recortada nesta noite impune, por você não ter-lhe ouvido a ária barroca guardada em seu peito . Não terei visto seus olhos me dizendo adeus, meus sentidos mentirão seu cheiro, teu riso, teu abraço, e os guardarei nas montanhas secretas de minhas lembranças. Mas quando voltar e descer na cidade rendida aos seus encantos, encontrará ainda aqui o calor que nos deixou.Aqui onde moram as sombras de tudo o que existe, não se sentirá estrangeira na cidade de todos os exílios, e verá as arvores brandas nas ruas que nunca cessam, descerá a cidade para encerrar o tempo, sob o peso de milhares de pés nas pedras saturadas de suas calçadas presentes, não reconhecerá a sombra, o som, o sol nem a lua, nem por elas será reconhecida, verá suas antigas estrelas, testemunhas do tempo, e sentirá o afago de seus becos cinzentos.Então conhecerá a cidade que leu e não viu, e o homem oculto te mostrará a bandeira do seu sonhos, e nela o afeto que em você se encerra. Que meu abraço encontre o seu sorriso, que minha cidade guarde sempre o calor de sua presença.
Carlos Said