Quando as flores nascem
damos-lhes um nome.
Num gesto fino
nasce a lua
e no breu instalado,
inculta, a flor trai-se
e respiramos o mesmo ar.
Quando as flores nascem
têm uma cor.
No profundo da clorofila
definem a parte dos ramos para onde irão,
os jarros que as esperam,
a água que lhes matará a sede
como a tesoura de podar.
Quando as flores nascem
livres são.
Hão-de ser parte de mel
se lhes calharem as abelhas certas;
ou perfume
ao lhes violarem as pétalas doces
e mutiladas.
Quando as flores nascem
damos-lhes um nome,
parte de frase
por acabar.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.