Almocei, comprei o jornal, sentei-me num dos bancos do Shopping.Um casal vinha caminhando com um menino, de uns 8 ou 9 anos com síndrome de Down.O garoto parou em minha frente, oferecendo seu sorriso lindo e rasgado que devolvi dizendo – Oi como vai, tudo bem ? Seus pais pararam e sua mãe – Diz tudo bem “pro” moço, encabulado pelo moço, sorri para a mãe enquanto o menino com sua voz pausada, obedeceu –Tudo bem e o senhor?Encantado do menino respondi- Muito bem e você esta se divertindo ? – Aqui é muito legal, e o senhor também. – Verdade e porque eu sou legal ? – Porque o senhor fala comigo.Um nó na garganta me embarga a voz congestionam meus olhos.Por uma fração de segundos revi meus filhos, netos , viajei nos olhos meigos do menino, peguei suas mãos.Ele desvencilhando-se, deu-me um abraço e um beijo inesperados, que continham o carinho de todas as almas e a caricia maior que jamais recebi - Meu nome é Lucas disse desprendendo seu abraço – O meu é Carlos, respondi engasgado. –Tchau seu Carlos, respondeu com sua voz musical e rouca.Seus pais me sorriram como agradecendo eu ter aceito seu menino "diferente".E continuaram andando com seu Lucas menino, olhando as vitrines, as pessoas, engrandecendo a vida. E eu, fiquei ali sentado, mudo, beatificado pelo abraço e pelo beijo, ouvindo o som cavo e surdo do manto do tempo caindo, sentindo no rosto o calor divino do menino com Síndrome de Deus.Qualquer dia em São Paulo.Que meu abraço encontre o seu sorriso, que a luz continue envolvendo nossas crianças encantadas...
Carlos Said
Inverno de 2010