Cada tempo tem seu motivo
sua existência
assim como o silêncio tem
seu eco, sua reverência
Cai a chuva lavando a alma
das nuvens e dos ventos
A seu tempo maquilha os céus azuis
matiz das lembranças mais subtis
gargalhada renovada onde viceja
o cântico em transe assim tão gentil
Perpetua-se a vida jorrando todo
fértil perfume dos amores alimentando
o silêncio hausto que deleita
num trago
a súplica abstrata de um tempo
onde me refugio em luto
na longa e lájea caminhanda por este
destino onde ladrilho o aposento
de um sonho bem aventurado e absoluto
Quando a chuva passar
deixo as nuvens de novo engravidar
cada chuvisco ao abandono
Pernoitar no amniótico tempo
onde tecemos a vida rompendo
o ungido silêncio insuflado na
brandura de um sorriso que ovaciono
Sonâmbula e lenta chega a madrugada
Desperta agora a nudez dos meus silêncios
cercados neste senil evento da saudade
que me deixaste homologada e
arraigada em melancolias onde guardo
cada destroço desta vida doendo
como uma hiperplasia embriagada
FC