Poemas : 

Conta-giros

 
Quadruplicar-se.
Vigiar o sono, as dores,
Abrandar os caminhos;

Tecer futuros,
Prover a argamassa,
Dessa minuciosa construção humana,

O tempo conta seus giros
E numa tácita encenação,
Agora a filha sou eu!

E deixo que me digam,
Como dirigir o carro,
Fechar bem as portas da casa,
Tomar o remédio, comer...

E com a mesma paciência,
De quando eram pequenos,
Aceito o lúdico papel.

Finjo birras e teimosias,
Premiadas com atenções.
Tão bom!

O tempo conta seus giros,
Cobra caro pedágios,
Rasga o roteiro.

E parece certo o dia,
De castigar com realidades,
A leveza da brincadeira.
Que medo!

 
Autor
Paula Baggio
 
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