[Hoje, a mesma saudade!
A morte é uma qualquer voz que mantém o mesmo timbre regular até nos aniquilar a consciência.
A história é a única parte de mim e de ti que nunca morre. A história mantém-se sempre intacta sem que a morte tenha a coragem de a matar. A história é aquilo que de mais bonito nos une. São os olhos que lembram. Tudo começa nos olhos. No brilho subjacente à nossa loucura. É o recomeço. O sorriso aberto. A inocência de se ser tão autêntico quando verdadeiro. Nunca se lembra uma história que não seja inocente. Que não seja autenticamente embebida de grandiosa verdade.
O corredor que liga o quarto à cozinha mantém o ritmo compassado dos teus passos. Arrastavas os chinelos numa melodiosa harmonia de sons que ainda hoje se ouvem pela casa toda. A morte não é mais do que a acumulação do tempo sobre o tempo sobre o tempo. O tempo a amontoar-se. A morte a mascará-lo como se fosse carnaval o ano inteiro.
No meu mundo, o carnaval não existe. No meu mundo, o tempo não te matou!
Entreabro a porta do quarto.
Entre o silêncio, uma voz.
Firmemente, caminho em direção a ti.
Os teus olhos.
A nossa inocência.
Toda a verdade.
Chega-te a mim: abraçamo-nos!]