ABOIO DE GENTE
De manhã passo em frente à sua casa.
Pois, desde antes do sol, lá da varanda,
Ficava aboiando a gente que à rua anda
E para o soar do apito já se atrasa.
Entoa a voz que induz a vida rasa
Dos que vão para a fábrica e lhes manda
Aquela saudação ou grita branda
Que o amanhecer um pouco mais apraza.
Estava sempre igual: Vermelho e forte,
De riso aberto, embora insuspeitadas
Recordações d’alguma adversa sorte...
Vai tangendo-nos pelas madrugadas.
E, evocando o sertão, afasta a morte
Sentado sobre as pernas amputadas.
Betim – 19 09 1999
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.