Irmão
... a mãe morreu
no bolor do silêncio
que trazia nos olhos.
Arrancada à vida
devolvi-a à terra
com lágrimas por dentro.
Nas traseiras do quintal
calcetei-lhe o sono
com flores de luz que duram muito
e sabem poemas de cor...
Rezei o terço à minha maneira
com palavras inventadas do luto
que me mordiscava a voz.
Fiquei ao lado dela
até a sentir aninhar-se
nas formas do chão.
Falei-lhe de ti, desse tempo
inconstante
- o pior da morte é a morte não ter voz
e teimar em ficar calada por muito tempo!
A mãe morreu natural.
Já nada me prende aqui.
A herança é pobre demais,
fica com ela que eu parto agora
à procura de melhor sorte.