[À data do teu aniversário, é ao redor das recordações que, todos os dias, por mim passam rente aos olhos que me tento apartar. Hoje, quero ainda mais dizer-te que os lugares que são teus e só teus continuam no mesmo sítio onde os deixaste. Todos os lugares que são teus continuam a existir com o mesmo vigor e com a mesma saudade do primeiro dia. Hoje, confesso-te: não conheço outra coisa que seja mais inquietante do que a não-existência. Reconhecer-se o vazio quando tudo o que se procura é uma parte, qualquer parte, que seja inteira.
Tenho saudades das flores amarelas ao cimo da rua. Dos gatos a saltarem-lhes por cima. Recordo-me de darmos as mãos e de as colhermos como se pudessem acabar. Os teus olhos azuis, cintilavam e brilhavam ao olhar-me como se eu fosse o Mundo. Perdoa-me a coragem mas tenho de te dizer que estavas enganada. Eu nunca fui o mundo. O mundo éramos nós. O Mundo era eu e eras tu. Agora, o Mundo é só a metade. É só a metade de alguma coisa que foi tão autêntica quando eterna. Por isso, um dia, as flores amarelas voltarão a existir nas tuas mãos. Um dia, haverei de partir à tua procura ou haverás tu de voltar ao meu encontro.
À data do teu aniversário, é como se os meus lábios sentissem a tua pele tão macia. É como se aqui estivesses e fôssemos equinócios temporais surpreendentes a percorrer cada pétala das flores que vezes sem conta adornaram as jarras cá de casa.
À data do teu aniversário, como faço em todos os outros dias, encosto o meu peito ao teu coração e espero pelo momento em que o Mundo seja, novamente, inteiro. Abraço-te!]