(Para Antônio Torres)
Abro a janela para o terreno baldio
cheio de mato, lixo e algumas cabras
(eu joguei fora todas as palavras)
– e vejo um cão uivando para a lua.
O cientista e o filósofo discutem
a origem do universo, o ser e o nada
e não sobram ideias nem palavras
– além de um cão uivando para a lua.
Latem os cães e a caravana passa,
passaram as carroças da desgraça
com as palavras da ambição dos homens
– só resta um cão uivando para a lua.
De tanto misturar o joio e o trigo,
de tirar da ostra a pérola da dor
e queimar as palavras no poema
– só resta um cão uivando para a lua.
José Carlos Brandão, poeta.
Arte Joan Miró ~ Dog barking at the moon (1926)