Fato sucedido e verídico
E a gente brinca de poesia
Tentando explicar essa viagem:
Foi lá pelas tantas que nem remela os olhos tinham
O poeta não dormiu, mais viu o movimento da turma
Galos cacarejavam, num poleiro improvisado no quintal
O falcão crocitava versos no alto da montanha
Águias, donas do céu, ruflavam descendo a montanha
Enquanto a gaivota pipilava sobre a água azul do mar
E uma juriti viúva soluçava num canto da serra,
Como fosse o canto de uma sala, onde o sol atravessava
E um palhaço pintava as manhãs e os donos dos carros
Os cacarecos dos trilhos levam os fandangos da cidade,
Pulando catracas e tangas, de uma batuta da minha idade
Não beijam a vidente, não pulam pinguelas e davam guela
Era a sina da minha pele como perebas sangrando do povo
E um sapo sem pernas, arrastava o sovaco pelas calçadas
Enquanto um casal se roçava entre fronhas e taças de vinho
Do outro lado corvejava o corvo, suas últimas notas do dia
E a cigarra apaixonada ziziava notas de um coito estranho
O cão esganiçava suas mágoas numa rua escura e vazia
O beija-flor conversa poeticamente com a amada parados no ar
E borboletas passeiam na minha mente com palavras coloridas
Abelha rainha, minha dona, zoava notas de amor pro meu coração
Enquanto a araponga bigorneava, acordando o povo do lugarejo
E assim, entre vozes, paixões e amores
Seguem a natureza e os homens
E foi lá pelas tantas naquela planície
Que dei conta que ainda tinha a minha voz!
José Veríssimo