Eu sou algo que nada é
Vento gelado na face
Resposta sem questão
Gente estranha sem fé
Artimanha sem classe
No limiar da ficção
Tu és sombra sem luz
Rio seco sem água
Página sem palavras
Sol que a Lua seduz
Tristeza sem mágoa
Da terra que lavras
Ela é mar sem rosas
Mar crispado que ri
Beijo dado sem amor
Céu azul que gozas
Coisa que nunca vi
Sem frio, sem calor
Nós somos metade do que eras
Tempo fecundado sem destino
Cruzes brancas sem outro jardim
Outonos de novas primaveras
Que tão louco não descortino
De névoas ligeiras sem fim
Vós sois a árvore que aqui vive
As folhas secas do longo abraço
Aquela memória sem história
O passado que nunca eu tive
A terra velha, passo a passo
Silêncio de olhos fechados, glória
Eles não são tudo e mais nada
Irrisórias incógnitas matemáticas
Nuvens cinzentas que espelho
Chuva, Temporal, enxurrada
Conversas levianas, pragmáticas
De quem cita o evangelho
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma