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Gente em Palavras

 
Tags:  reflexão  
 
Raramente revejo os textos que escrevo aqui.
Em regra são escritos altas horas da noite, quando a cidade já dorme, e publicados a uma hora mais civilizada, o que me permite lê-los com outros olhos e corrigir a ortografia ou a pontuação. Mas nunca altero o conteúdo. Mesmo que, por vezes, pela manhã, à luz do sol, já não faça muito sentido o que escrevi, ou já não tenha a importância que na altura lhe atribui. Por vezes começo pelo título e tudo gira à sua volta. Outras vezes é o primeiro parágrafo que baila na minha cabeça e que me leva a ligar o computador. Mas a maior parte das vezes o pensamento perde-se e a ideia original acaba por passar despercebida ou desaparece em considerações que, quem me lê, nem sabe que está lá e até eu só consigo adivinhá-la em frases ou sentidos de uma linguagem que penso ser só minha.



Há dias em que descubro que há quem conheça esta língua que falo. Gente que me reconhece ou que consegue descobrir no desenho de uma vírgula, o que me vai no coração e que por pudor mascaro em histórias pontuadas com sorrisos, numa tentativa - percebo então ! - quase inútil para esconder a sensação de nudez que sinto sempre que alguém lê o que não quis escrever. E quando isso acontece é como se a terra tremesse por baixo dos meus pés e abalasse os muros que me esforço por manter erguidos, que me protegem dos gestos bruscos e das palavras duras, que mantêm afastados os papões e bichos-maus que atormentam os meus sonhos, até aqueles que vivo acordada. Nesses momentos sinto que o meu mundo é afinal mais transparente do que eu desejaria, que não escondo a sua existência tão bem como esperava, que conseguem ver a cor do sangue que me corre nas veias, por vezes tão depressa que chego a acreditar vai escapar-se, espalhar-se pelo mundo em ondas de calor, como se os meus braços conseguissem rodear o planeta e aconchegar a humanidade no meu colo. Fico pequenina, mais pequenina que uma criança, tão pequenina como uma concha, um seixo ou uma semente por germinar. E é estranho como nessa altura a angústia não é um sentir doloroso mas apenas a asa de um anjo que protege a minha existência.



Num curto espaço de tempo recebi, aqui e na minha caixa de correio, palavras que provaram ser mais do que simples conjuntos de letras agrupadas para fazer sentido. São sentimentos por direito próprio, com vida e calor. Palavras que sacudiram a minha vida e agitaram as minhas noites. Entraram em mim quase sem pedir licença, como se morassem aqui, no meu mundo, no que sou, no que todos os dias me esforço por ser. Palavras feitas gente, com voz e brilho no olhar. Gente que me conhece apenas pelo que escrevo e desenho, e gente que já abracei. Gente que vive na minha vida, que nunca serei capaz de esquecer. E gente com quem me cruzei agora, que ao confessar que tudo sentiu me fez sentir ainda mais. Graças a todos vós hoje posso ser mais eu. E embora me tenham despido das minhas máscaras pintadas para esconder a alma, são vocês que não me deixam sentir frio.
E.L.
2006/10/01


E.L.

 
Autor
Emilia Lamy
 
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Enviado por Tópico
MariaAlfacinha
Publicado: 10/08/2008 10:09  Atualizado: 10/08/2008 10:09
Novo Membro
Usuário desde: 10/08/2008
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Mensagens: 4
 Re: Gente em Palavras
Mais um texto que não é seu.
Reponha a verdade, sff

Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 22/10/2008 11:59  Atualizado: 22/10/2008 11:59
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Usuário desde: 19/10/2008
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Mensagens: 3731
 Re: Gente em Palavras
Gostei imenso do texto.

É como uma imagem de mim...pois faço e sinto-o como se de mim se tratasse.

Escrevemos o que nos vai na alma, sem muitas vezes termos do outro lado, a compreensão desejada.

Escrevemos palavras ao nosso ritmo...no nosso sentido.

Parabéns

Eduarda