Sou tímido, falo de cabeça baixa
Não ando à noite, durmo com as galinhas
Nem durmo durante o dia, mas sei da minha estrada
Pinto meus paraísos com a tinta de sua alma
E sempre faço minha pressa na tua calma!
Pra te alcançar ando descalço, não uso laço
Sou cheio de manias, ando pintando pássaros
Dentro de minhas veias, ando quebrando passeios
Pra encurtar ruas e te encontrar na sua
Quebro muros pra unir os povos
Faço pontes pra ficar mais fácil
Que manias loucas que tenho!
Ando fora de moda!
Tem hora que piro:
Leio no jornal de ontem
As notícias de amanhã
Se mudo de canal ta tudo igual
Até minha rádio ficou louca
Anda falando que tem um país por aí
Que ta interferindo nos eleitores de outros
Êita rádio boba! Acha que o povo acredita!
Outro dia ouvi que tem um presidente
Destruindo as relíquias da humanidade!
Diz que sai pó aí matando crianças
Pra marcar território: quer um povo novo, matando crianças!
Tem outra turma mais louca ainda, seqüestrando jovens garotas
Ah! Dizem de certos livros sagrados que não podem nem ver!
Mas têm outros que podem ver e até decorar. Imagino!
Ta vendo Deus, o que Você deixou aqui na terra!
Meu planeta azul de alma marrom não ta agüentando Seus filhos!
Sabe esses lixões? Os Botas-fora? Reciclagem? Transbordo?
Corre Pai, manda esse seus filhos prá lá. Pode ainda ser tempo!
Ta de tirar o fôlego! Oceanos se tornaram corredor de matadouros
Lá onde o boi, o porco, o cabrito e o pato, valem o mesmo preço:
Aquele que pagamos por eles em nossas mesas, em nossas festas
Lá eles todos sentem o mesmo medo, têm a mesma “síndrome”!
Tem horas que me pergunto porquê esse povo estudou tanto?
Se depender de quem decide estamos todos “fu”, aliás, estamos!
Quando uma turminha quer, ninguém segura, manda, amedronta!
E a turminha dos Palácios e das gravatinhas francesa, bate palma!
O cara do jornal ri à toa, nem precisa de anúncios, vende tudo!
Nós compramos tudo, lemos tudo que não nos ensina nada!
Pagamos pra não aprender, temos medo do saber e sentimos bem!
Trabalhador pega sua enxada, capina sua estrada
Doutor usa sua caneta, faça justiça para todos
Senhora quebra sua panela, não deixe ninguém dormir
Jogador tira sua chuteira, deixa seu pé fazer a alegria
Criança venda seu bico, doa sua mamadeira, mas sorria
Seu guarda rasga essa farda, troca sua arma, mas tenha alma
Seu vigário, saia do altar, bata o sino, anuncia a salvação
Por fim meu Deus abençoa esses seus filhos malucos.
Meus irmãos! Permita aos poetas continuarem loucos. Amém!
José Veríssimo