I
Quando eu partir, e sei que em breve partirei,
não deixem de me lembrar como sempre fui
e acreditem que para sempre viverei
nos campos e na água que dos rios aflui!
Quando eu morrer, e acreditem, não demora,
não deixem de pousar nos meus olhos uma flor!
E embora seja triste, a languidez da hora
será prova de que entre nós havia amor ...
A viagem traz outro sitio a alcançar,
espaço onde haverá em mim lugar p'ra todos vós,
e farei a travessia, sem medo, embora só!
Mas levarei comigo os momentos que vos dei
na certeza de que afinal, aonde vou, não sei,
só sei que digo adeus com pena d'ir e não voltar!
II
Mas este adeus não será um adeus p'ra sempre,
na verdade, viverei nos vossos corações,
não chorem, pois quem chora alto, mente,
chorem para dentro, é lá que estão as ilusões ...
E é lá que estão os sonhos, e os versos,
e tudo o que se almeja um dia encontrar,
é lá que estarei eu, no fundo do desejo
de em qualquer parte, nos podermos abraçar!
Eu não sei se voltarei! Ninguém jamais voltou!
E na verdade quem parte nunca leva
a tristeza dos olhos de quem ficou ...
Mas quem fica, não sabe a tristeza que levou
quem morreu, e não há Poeta que descreva
o que sentiu, quem com a morte se encontrou...
... adeus ... adeus ...
Ricardo Maria Louro
Ricardo Maria Louro