O anjo de hoje acordou-me
com um beijo de sol
e disse-me, baixinho:
‘é hoje!’
Hoje?
mas hoje é um dia igual
a tantos outros
antes do natal...
Não sentes?
as luzes já dominam
o ritmo das gentes:
-pisca-pisca-corre-corre-dlim-dlão-
e as noites frias
embrulham misérias
escondidas no vão
do olhar já cansado
de tantos natais.
Ó mãos que só dais
em dia marcado
(e é comigo que falo
meu anjo de hoje
meu anjo sem halo
de estrelas miúdas
meu anjo invisível
que às vezes és sol
às vezes és chuva
e és sempre o que sou
de mais inaudível.
‘É hoje!”
diz ele, desta vez mais alto
e eu sobressalto-me
ao golpe de urgência
que, por um triz, não me fere
a pele em dormência.
Ainda.
‘Anda...
hoje o dia tem a tua idade:
cria.’
E eu sento-me e escrevo
esta poesia
sabendo que devo
tão mais que palavras
ao dia de hoje
-
matéria tão rara
substância fugaz
que eu nunca perfaço
em Arte Primaz.
Abraço o meu anjo
e prometo que um dia
...
(23/12/2016)
Teresa Teixeira