já brigámos tanta vez que nem tem conta
partimos toda a louça pelo chão
uns motivos feitos razão tonta
pensando não ter volta nem perdão
rasgaste as minhas fotos e eu as tuas
as prendas que me deste eu escondi
mas tu largaste no esgoto das ruas
as cartas de amor que eu te escrevi
puseste à porta a planta que te dei
eu deitei pela janela os teus fraques
apagaste-me do teu mail que eu bem sei
e eu contei a todos dos teus traques
bloqueaste-me no facebook e msn
e eu criei um perfil belo e perfeito
e quando tu pensavas ser um man
tiveste uma bruxa ao parapeito
contei aos teus amigos essa história
e tu nem soubeste da risota
nesse dia foi a minha glória
mais triste, coisa assim de bota
tiraste-me as pestanas uma a uma
e eu quis ser o teu pesadelo
mandei-te a conta do sal e espuma
e tu perdeste a cabeça e o cabelo
mas tenho ainda um sonho antigo
escrever um livro só para ti
e tu bem vês eu não consigo
acabá-lo se não estás aqui
mas como faço se aqui não estás
se tudo fica escuro e não há sol
como escrever se não me dás
por tua mão, o meu lençol?
deixaste aqui um livro, o Papillon
para eu ler, e, só por ser teu
talvez o leia num dia bom
guardo-o assim fingindo-o meu
guardo também alguns segredos
que são só teus nem deles sei
alguns momentos, enredos
que só sonhei
adormeceste em mim tua ternura
o telefone tocava e eu menina:
fiquei a olhar-te, quieta e dura
acordaste já dia: foi gasolina
já foi Natal e tu menino
já fiz anos sem teu nome
minha ceia o desatino
minha festa só de fome
guardaste o beijo que te dei
para beijares nos dias maus?
se era meu ou teu nem sei.
dá tu as cartas, o trunfo é paus!
qualquer cena parecida com a realidade é mera ficção