A dor não passa aguilhoa fundo a alma,
o tempo amaina, mas não vai curar.
A ausência de ti, a distância acalma,
porém, no âmago o riso será um esgar.
Do sentir que um dia julguei tão ledo
ter brotado no teu peito, criado raízes,
carregarei para sempre as cicatrizes,
tormento pelo anseio que feneceu cedo.
Se da comiseração recuso a percepção
das estranhas marcas indeléveis do sofrer,
meu orgulho impede aceitar compaixão,
o fel deste cálice sorverei como um qualquer.
Refuto a piedade, a emoção saber-me-ia fatal,
talvez seja insensibilidade própria ou carência,
jamais saberei se para o bem ou para o mal,
sequer questiono os ensejos da tua preferência.
E nada que meus versos digam algo vai mudar
mesmo que eu tudo vocifere aos quatro ventos,
cante à noite silente prateando-me as cãs o luar,
exponha a mente insana desnuda aos elementos.
Se um dia fui teu poeta, hoje um maldito serei,
incauto, débil, desde que me deixei apaixonar,
e cobarde refugio-me tal líder de funesta grei,
acalentando canções fúnebres em sinistro altar.
Três vezes maldito seja e para sempre imolado,
qual em ara profana, se ao peito nada mais importa.
- " Poeta, purifique na dor do teu íntimo ora vazado,
aquela ilusão execrada resta agora também morta."
05012017
do livro "Pólen de estrelas"
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."