[Hoje, retorno para te falar outra vez. Sem que me alongue demais ou me encurte de menos. Sem que as palavras aqui deixadas ocupem todo o silêncio que restará sempre. Hoje, quero olhar-te nos olhos. Quero penetrar nesse olhar que, amorosamente, me olha. Esta perplexidade de te ver a ver-me e de nos encontrar como quando se encontram dois amantes intempestivamente atemporais.
É esta a saudade que me ocupa toda a vontade de estar aqui e de existir num qualquer lugar.
É assim que me abeiro, a olhar-te através deste armário de letras onde se guardam palavras. Através deste lugar amplamente pequeno de onde te vejo acenar-me. Depois, do interior de ti, são as ervas e as flores cor-de-rosa-lilás que vejo brotar. Mudas. Tão silenciosas, a querer falar-me num encontro fervoroso de pele com pele. Vejo algumas pétalas secas caídas no chão e outras viçosas, plenas de exuberância à espera que, sorrindo unidas, as polvilhemos de amor.]