[ Há dias que são oceanos mil. Mil partes de água dispersas entre poças separadas por dias nenhuns. Então, há uma distância que se cria entre o som das pingas de água a bater no chão e o momento em que esse mesmo som entra pelos nossos ouvidos. Som após som. Pinga sobre pinga. Ramo entre ramo. Folha seca sobre folha. Estas frações de segundo repetidas e continuadas em que as pingas nos entram pelos ouvidos, quase molhando-nos, são pedaços de imagens que se vão edificando em torno de nós. Há figuras dispersas e histórias que se vão contando entre melodias bastante homogéneas que se ouvem de fora, cá dentro. Há imagens que são o prolongamento da chuva. Pessoas dançantes, meticulosamente mascaradas sob partes secretas de um universo algo excêntrico. O barulho dos pássaros. Hão-de aparecer. Os pássaros hão-de interromper esta melodia uniforme sobre nós. Pousados sobre os ramos húmidos das macieiras, assobiarão. De súbito, toda esta infinidade finda. Interrompe-se tudo. Esgota-se tudo. Os rostos. As pingas. A dança. A melodia.... Por agora, o fim! ]