Enviado por | Tópico |
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Margô_T | Publicado: 29/01/2017 16:03 Atualizado: 29/01/2017 17:29 |
Da casa!
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Re: A geometria dos escombros
Um poema que remete para imagens apocalípticas - sobre destruição e violência, sobre resistência e impotência.
Obrigada por dares voz às vozes silenciadas e lembrares quem te oiça desta realidade que não diz respeito apenas a Alepo mas a todo o mundo. Apesar do poema se chamar “A geometria dos escombros” parece-me óbvio que desenvolves um paralelismo entre o espaço e quem nele vive, e é por isso que os “escombros revelam ao mundo” não só as “suas geometrias” como também “a dor calada”. Logo no início do poema temos três sentidos em acção: audição, visão e tacto – o “ensurdecedor” para o primeiro, o “cidade cega” para o segundo e o “tacteia” para o terceiro. São os sentidos que apreendem o que se está a passar (alterações, movimentos), daí toda a multiplicidade de palavras que complementam o “cenário” e reafirmam o que os sentidos “recebem” como “estilhaço”, “vibração”, “explosões”, “sucumbem”, “balbúrdias”, “correria”, “poeira” e “escombros”. Estas palavras põem-nos “no terreno”, obrigando-nos a encarar esta realidade e, parece-me que inevitavelmente, a imaginar-nos na mesma situação, a sentirmos empatia por quem vive em Alepo e a compreendermos que é por pura arbitrariedade que não estamos lá (afinal de contas, somos todos seres humanos e pertencemos ao mesmo espaço-Terra… poderíamos estar num outro qualquer local se os acasos que nos trouxeram ao lugar onde agora estamos tivessem sido, mesmo que apenas residualmente, diferentes). Vendo a casa como um corpo (dica que o próprio verso nos dá dizendo “peito aberto”), a janela é essa divisão que existe entre interior e exterior, daí que o trecho: “Janelas envidraçadas se entregam de peito aberto até que o ar se encha de chuva de estilhaço.” me remeta para algo tão intenso quanto o quadro do fuzilamento de 3 de Maio de Goya. A casa, como lugar de suposto refúgio, é violentamente destruída. O interior, as pessoas, são arrasados pelo exterior. As “janelas envidraçadas” entregam-se perante a impotência, “de peito aberto”, e a “chuva” e o “estilhaço” entram na divisão. Porém, há uma óbvia resistência: “Alguns pilares resistem à vibração do ar, como soldados suicidas, enfrentam explosões da temperatura hedionda e vão trepidando e se quebrando antes da desconstrução fatal.” os “pilares” representam essa força, esses homens (todos os homens de Alepo), essas mulheres (todas as mulheres de Alepo), essas crianças (todas as crianças de Alepo) que se defendem, reagem e lutam contra as adversidades, mantendo as suas convicções - mesmo que para tal tenham de mudar por completo a sua vida e abandonar (fisicamente) as suas raízes. A destruição faz com que os “gemidos” se convertam em “silêncio”, mas logo voltam os sons, sob a forma de “gritos”, porque a destruição não cessa… porque mesmo quando uma guerra finda vem sempre outra a seguir “Por alguns minutos, cinzas sufocam gemidos e estes sucumbem ao silencio. Alguns gritos chegam com o vento; balburdias da correria pós conflitos” E quem são esses “bravos monumentos” senão todos esses Homens que lutam pela sobrevivência e nada fizeram para que não fossem deixados em paz? Um poema muito bem escrito, um poema que causa muito impacto, um poema que mostra o que nem sempre queremos ver (mas temos de ver), um poema que é tão humano que nos toca de um modo profundo e inevitável. |
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Enviado por | Tópico |
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MarySSantos | Publicado: 31/05/2017 14:21 Atualizado: 31/05/2017 14:21 |
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Re: A geometria dos escombros
Gosto.
Mary |
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Enviado por | Tópico |
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visitante | Publicado: 14/03/2018 10:54 Atualizado: 14/03/2018 10:54 |
Re: A geometria dos escombros
Poema profundo que bete nos sentimentos da alma
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Enviado por | Tópico |
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MarySSantos | Publicado: 15/03/2022 15:56 Atualizado: 15/03/2022 15:56 |
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Re: A geometria dos escombros
A guerra e seus capítulos.
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Enviado por | Tópico |
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Rogério Beça | Publicado: 15/03/2022 17:57 Atualizado: 15/03/2022 17:57 |
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Re: A geometria dos escombros
o caos perfeito
novecentas e noventa e nove as palavras contadas ao segundo, para uma imagem de paz no mundo num tempo parado, que não se move uma, para que o amor se renove, ou mais, para que seja mais profundo, mil, a conta certa, o ar moribundo. só novecentas noventa e nove as palavras para descrever o rosto que fazes ao rir duma graça que disse sem piada, e tanta falta de jeito imagens que ficam, pedra sobre pedra espalhadas no chão, sobre a meninice; o caos perfeito. |
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