ÀS CLARAS
AQUINO:
Não se pode negar que te desejo,
Embora diga não mais te querer.
Pois tudo em ti me atrai tão-logo vejo
Meus olhos em teus olhos sem querer.
CLARA:
Sei que foges dos meus olhos. Sim, eu sei!
Tentas dissimular e me esconder
O que sentes sob tão obtusa lei,
Que faz do amor um jogo de poder.
AQUINO:
Não quero mais dizer que não te quero
E mesmo que não possa ou que não deva
Sem mais nada esperar, ainda espero
Do que já me foi luz e agora é treva...
CLARA:
Não há treva que dure: Vem a aurora!
O amor que fere é o mesmo que sara...
Permite que a verdade surja agora
E transforme estas trevas em luz clara.
AQUINO:
Sim, Clara, se me tomas pela mão,
Falando enfim à minha fantasia,
Talvez finja que não finjo a emoção
De tua fala feita de poesia.
Se finjo não saber que te desejo
E minto a te dizer que não te quero,
Sei que nada te impede um outro beijo
Ou de dizer que tudo fora invero.
CLARA:
Deixa apenas falar ao coração
O mel que me derrama pela boca
Da impossível poética em canção,
Que então dentro de mim agora toca.
Deixa que minha boca toque à tua
No encontro pleno d'uma estrofe muda:
Seja poesia a minha carne nua
E seja luz minh'alma em ti desnuda!
Belo Horizonte - 18 12 2016
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.