Poemas : 

Além do verbo #.#.#

 
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Além do verbo







Sempre haverá definições para o amor.
Belas, inconclusas, sinceras, feias ou ridículas,
Todas, não direi, falsas, mas
Longe, a anos luz
Da grande fornalha cósmica que arde
No peito deste ser. Todos nós.

Mas tu, que invoco à leitura,
E que agora lava este poema
Com as retinas da distração,
Também sentirá a enorme distância nessas letras.

Mas que assim mesmo reverbera
(não me pergunte como)
Em algum lugar entre nós dois.

Sem plausibilidade, de algum modo,
Um grande encontro,
Nessa forja indefinida e solitária.

A definição para o amor
Não pode ser hieroglifada em tabuletas de argila.
Em alguns casos, pouquíssimos,
Podem ser plenamente sentidas, vivenciadas,
Talhadas ou galvanizadas na carne trêmula em dor.

Então posso dizer que a definição está lá,
Só que ainda numa linguagem não decodificada
À maioria dos homens.





Milton Filho, 30.12.12

 
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Srimilton
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Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 28/01/2020 09:41  Atualizado: 28/01/2020 09:43
Da casa!
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 Re: Além do verbo #.#.#
“Além do verbo”, da pura abstracção linguística, há alguém (“todos nós”) que sente. Esse sentimento, que interiormente nos move, é uma “fornalha cósmica” bem “longe, a anos-luz” de qualquer tentativa de enclausuramento linguístico, ainda que haja uma catadupa de “definições para o amor” para todos os gostos (“belas, inconclusas, sinceras, feias ou ridículas”). A verdadeira definição não estará em nenhuma delas, ainda que nenhuma delas esteja totalmente errada (“Todas, não direi, falsas”) porque ainda está para vir uma que capte a verdadeira essência que brota do “peito deste ser”.
Esta primeira estrofe está um espanto!

Também eu, leitora invocada, sinto uma distância entre o que aqui leio e o que está inerente ao que aqui escreveste.
Todavia, (não pergunto como), sinto que há algo nela que “reverbera” uma qualquer definição intrínseca minha, conseguindo atingir memórias e sentimentos meus – esses indefinidos. Já que há algo, humana-mente comum, neste sentir... algo comum a “todos nós” (“Em algum lugar entre nós os dois”).

“A definição para o amor/Não pode ser hieroglifada em tabuletas de argila.” – Soberbo! E isto ainda que os hieróglifos sejam, provavelmente, o que de mais próximo podemos ter com esse sentir que desafia definições… para sempre estrangeiro em nós.

Resta-nos a certeza que o seu lugar é dentro de nós, e não na linguagem:
“Em alguns casos, pouquíssimos,
Podem ser plenamente sentidas, vivenciadas,”

E que a descodificação está em nós, mesmo que a capacidade de a expressar nos esteja, para sempre, vedada:
“Então posso dizer que a definição está lá,
Só que ainda numa linguagem não decodificada
À maioria dos homens.”


Gostei de te reler!