Nasceu nos olhos, linda e delicada
com pele de seda, perfume de mar
e as mãos deram-lhe um berço
para o embalo do primeiro verso.
Cresceu menina, doce nas palavras
que vertiam e bebia, como se de fontes do céu.
E perguntava por todos os poemas
por todas as rimas, pela lua, pelo calor da tarde
pelas manhãs azuis, pela neblina, pela chuva
pelo entardecer à luz por pôr-do-sol
pelo outro lado do mar…
Sorria para o horizonte, ria também
ao abraçar um outro verso.
Fez-se mulher, sentiu o fresco das manhãs
acendeu a primeira chama, ateou fogueiras
e fez arder pétalas brancas no peito
na lentidão dum beijo temperado
terminando o último dos três versos
do poema que sonhava...
Na praia, descalça, em arrepio
embalada de silêncio, cheiro a maresia e fé
sentiu a espuma na pontinha do pé
e beijou a areia molhada, morna, branca de sal
como se fosse ela a madrinha da sua poesia!
João Luís Dias